Familiares de reféns pedem a Guterres e à ONU para "usarem o poder que têm"
Familiares de reféns do Hamas apelaram hoje a António Guterres e às Nações Unidas para usarem "o poder que têm" para libertar os homens, mulheres e crianças há 100 dias em cativeiro e criticaram silêncio das organizações humanitárias.
Numa conferência de imprensa em direto de Telavive, em Israel, organizada pela associação luso-israelita Aliados, no Porto, a mãe e o irmão de dois dos mais de 110 reféns feitos pelo movimento islamita palestiniano Hamas, que continuam em cativeiro, exigiram a "libertação imediata" de todos os detidos e alertaram para aquilo que consideram ser "um problema do mundo" e não apenas de Israel.
Há 100 dias, a 07 de outubro, combatentes do Hamas invadiram território israelita num ataque sem precedentes, mataram 1.130 pessoas e raptaram mais de 200 cidadãos de várias nacionalidades, incluindo portuguesa, dos quais cerca de 110 continuam em cativeiro.
"Exigimos que todos os que se consideram humanos façam algo para tirar aquelas 110 pessoas dali. Este é um assunto do Mundo, não de Israel", apelou Omri Shtivi, irmão de Idan, de 28 anos, um dos reféns mantidos em Gaza e que tem nacionalidade portuguesa.
Ao lado, Sheill Shem Tov, mãe de Omer Shem Tov, 21 anos, também ele em cativeiro, direcionou o apelo: "António Guterres, Organização das Nações Unidas (ONU), façam alguma coisa. É inacreditável que ninguém fale da situação dos reféns. Ajudem-nos. A ONU que use o seu poder para trazer de volta estas pessoas", exortou.
Minutos antes da conversa com os jornalistas, a ALIADOS divulgou seis minutos com imagens de um conjunto de vídeos que até agora foram apenas exibidas em circuitos diplomáticos e militares. São imagens captadas pelos combatentes do Hamas que atacaram Israel a 07 de outubro.
São imagens "cruas, feias, sangrentas", de corpos desfeitos e queimados, sangue, casas invadidas, pessoas a serem agredidas e exibidas, festejos de agressores.
No vídeo é possível ver parte da invasão do festival de música onde estava grande parte dos reféns. Dispararam sobre as casas de banho, ocupadas, sobre carros que fugiam, sobre quem dançava, sobre quem corria, sobre quem se escondeu.
"O meu irmão apenas foi a um festival. Ele está ferido, nós vimos sangue, vimos os buracos no carro em que ele seguia. Só sabemos que está vivo e está lá", contou Omri, que descreveu Idan como um jovem "amável, alguém em quem se pode confiar".
Idan e o irmão têm nacionalidade portuguesa e lamentam que o Governo português não mantenha contacto com eles. Omri contou que teve contacto com o Ministro dos Negócios Estrangeiros e com alguns membros do parlamento português "e foi só".
"Espero que o Governo português seja responsável, se responsabilize pelos seus cidadãos pelo mundo e não só os que estão em Portugal. Espero que façam perguntas sobre este cidadão português, que mostre empatia", descreveu.
Para a mãe de Omer, "a vida parou" naquele 07 de outubro: "A nossa missão, a missão da nossa vida é trazê-los para casa. O meu dia é aqui [no quartel-general das famílias dos reféns, em Telavive], aqui com pessoas que entendem a minha situação. Estamos juntos, felizes por quem já foi libertado mas estou triste porque o meu filho ainda lá está", explicou.
A "esperança continua" mas, como reconheceu Omri, "há dias em que a raiva e revolta" invadem os familiares de quem está em cativeiro. "Hoje sinto-me impotente zangado. Não vejo os líderes do mundo a agir. Onde estão as organizações humanitárias? Talvez amanhã já me sinta com mais esperança", confessou.
O Hamas é uma organização considerada terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel que está no poder na Faixa de Gaza desde 2007. Israel retaliou os ataques de há 100 dias, declarando uma guerra para erradicar aquele movimento.
O abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível a Gaza foi cortado e Israel levou a cabe bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que entretanto se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas fez até agora na Faixa de Gaza mais de 23 mil mortos e mais de 59 mil feridos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise.
"Às vezes vou ao quarto dele e falo com ele, digo-lhe que tem que ser corajoso, que estamos a fazer de tudo para que ele volte. Às vezes não acredito em mim. Eu deixei o quarto como ele o deixou, quando ele saiu disse-lhe que tinha que arrumar o quarto quando voltasse", contou Sheilla.
"Continuo à espera. Tragam-nos já", enfatizou.