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Médicos Sem Fronteiras alertam sobre falta de locais seguros em Gaza

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A organização Médicos Sem Fronteiras alertou hoje que as ordens de retirada e bombardeamentos perto dos hospitais de Gaza deixam "poucas opções" de cuidados de saúde para os civis frisando que são escassos os "locais seguros".

"Nos últimos três meses, o ataque das forças israelitas à Faixa de Gaza diminuiu drasticamente as opções para as pessoas encontrarem cuidados médicos", frisa-se num comunicado dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgado hoje.

De acordo com o mesmo documento, os espaços seguros para as organizações prestarem cuidados de saúde aos civis são praticamente inexistentes acrescentando que as constantes ordens de retirada, evacuações e os ataques a instalações de saúde forçaram repetidamente os organismos como os Médicos Sem Fronteiras a abandonarem hospitais.

"Estamos a ser gradualmente encurralados num perímetro muito restrito no sul de Gaza, em Rafah, com cada vez menos opções para oferecer assistência médica, enquanto as necessidades aumentam desesperadamente", refere Thomas Lauvin, coordenador de projeto dos MSF em Gaza.

"À medida que o ataque a Gaza progrediu, tivemos que evacuar várias instalações de saúde no norte de Gaza e depois na área central". disse indicando que as equipas estão limitadas ao sul do enclave.

"Atualmente, estamos limitados a trabalhar principalmente no sul, porque não podemos trabalhar noutros locais. (...). Em suma, estamos a ficar sem hospitais. Somos obrigados a deixar os doentes para trás", lamenta Lauvin.

O sistema de saúde em Gaza está em colapso.

A Organização Mundial de Saúde refere que apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operacionais: nove no sul e quatro no norte.

Os dois principais hospitais do sul de Gaza estão a funcionar com o triplo da capacidade de camas e estão a ficar sem produtos básicos e sem combustível.

No passado dia 06 de janeiro, as equipas da organização não-governamental foram obrigadas a evacuar mais um hospital.

"As nossas equipas abandonaram o hospital de Al-Aqsa, na zona central de Gaza, depois de as forças israelitas terem emitido ordens de evacuação e retirada para os bairros em redor do hospital. Esta retirada forçada restringiu o acesso à nossa própria farmácia, demonstrando a deterioração do ambiente para as atividades médicas", declarou.

Enrico Vallaperta, responsável pelos projetos da MSF em Gaza diz que abandonar Al-Aqsa foi uma decisão "devastadora" indicando que os ataques de drones, os disparos de franco atiradores e bombardeamentos nas proximidades do hospital tornaram o espaço muito inseguro para trabalhar.

O hospital Al-Shifa, o maior de Gaza (norte do enclave), foi atingido e o pessoal médico foi obrigado a retirar-se, no passado mês de novembro.

Em seguida, o hospital Al Awda, hospital parceiro dos Médicos Sem Fronteiras desde 2018, foi atingido e três médicos foram mortos.

As mesmas circunstâncias estão a repetir-se no sul de Gaza, que alberga cinco vezes mais pessoas do que antes da guerra e onde existem menos locais para prestar cuidados de saúde aos civis.

O sul de Gaza tem sido alvo de bombardeamentos intensos desde o fim das tréguas de novembro e as necessidades de cuidados de emergência, cirúrgicos e pós-operatórios "são enormes" na zona.

A falta de capacidade hospitalar está a privar os pacientes de tratamento adequado e de condições de higiene, o que resulta num número crescente de feridas infetadas e de procedimentos médicos realizados em condições extremas.

Além dos ferimentos graves, muitas mulheres submetidas a parto por cesariana têm alta apenas seis horas depois do nascimento para darem lugar a outras mulheres grávidas, enquanto outras são simplesmente rejeitadas e dão à luz em tendas.

A MSF refere ainda que "continua empenhada" em garantir cuidados médicos em Gaza e apela à proteção dos hospitais, do pessoal médico e dos pacientes.

"Em Al Awda, no norte de Gaza, e no hospital Nasser, em Khan Younis, um punhado de profissionais de MSF está a trabalhar em condições extremamente difíceis, incluindo a falta de alimentos e material médico devido a ataques aéreos e combates nas proximidades", diz o mesmo comunicado.

A MSF reitera o apelo em relação a um cessar-fogo imediato que poupe a vida de civis, restaure o fluxo de assistência humanitária e restabeleça o sistema de saúde do qual depende a sobrevivência da população de Gaza.