A política do absurdo e o Congresso socialista
1. Disco: É um disco fabuloso. “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de David Bowie, é uma obra-prima que, com justiça, ocupa um lugar entre as maiores obras da história do rock'n'roll. O álbum marcou um momento crucial na evolução musical de Bowie, à medida que se desenvencilhava das suas “personas” anteriores e abraçava a personagem extravagante e andrógena de Ziggy Stardust, um astro do rock alienígena que chega à Terra para alertar a humanidade sobre a sua iminente destruição. Um álbum inovador, que influenciou inúmeros artistas e continua a inspirar. De audição obrigatória para quem gosta de música e de cultura “pop”.
2. Livro: “Regresso da URSS”, de André Gide, é um livro de memórias que narra a viagem que Gide fez à União Soviética em 1935, a convite do governo desse país. Gide partiu de França como um defensor do comunismo e regressou desiludido. O livro foi decepcionante para muitos, pois o autor não encontrou naquele país o paraíso comunista que esperava. Observou, isso, sim, uma sociedade marcada pela repressão, pela propaganda e pela falta de liberdade. Gide escreve sobre a censura, a falta de oposição política e a adoração a Estaline, a quem critica o culto à personalidade, a falta de liberdade de expressão e a pobreza generalizada. Este é um livro muito importante, uma vez que ajudou a abrir os olhos do mundo para a enormidade do regime soviético.
3. De um modo ligeiro podemos definir como absurdo algo que é irracional, inconsistente ou incongruente, destituído de senso comum e sem sentido lógico. Estamos cercados por coisas que roçam o absurdo. Elas estão por todo o lado, e cada vez mais na política, na governança, na gestão dos assuntos que a todos dizem respeito. Revelam uma desconexão entre a acção política e a realidade lógica, ética e moral.
Quando decisões políticas, ou políticas públicas, são tomadas sem uma base lógica ou empírica sólida, são absurdas. Todos já nos confrontámos com isso. A implementação de leis ou regulamentos que são contraproducentes ou que falham em atingir os objetivos pretendidos, por todos tomadas como sem sentido, é cada vez mais constante.
Neste tempo em que vivemos, somos cada vez mais confrontados com políticos que fazem declarações que são claramente falsas (para não dizer que mentem), exageradas ou sem relação com a realidade. O objectivo é claramente o de manipular a opinião pública, desviar a atenção de questões importantes ou, também acontece, por falta de entendimento do que se está a passar. Ou seja, um absurdo que dá muito jeito a quem profere balelas procurando manipular quem o ouve. Pode associar-se a isto a disseminação de informações falsas ou teorias da conspiração sem base nenhuma, criando enredos que são verdadeiros absurdos políticos, com o propósito de criar a divisão, o medo ou para fortalecer uma base política.
E as situações cheias de burocracia que o poder adora, absurdamente complicadas e ilógicas, que parecem sair de um livro de Kafka? Isso pode incluir processos políticos ou administrativos, desnecessariamente complicados e ineficientes, que servem para emaranhar indivíduos em labirintos de burocracia sem fim. Querem algo mais absurdo do que isto?
Uma das piores coisas que pode acontecer a quem exerce actividade política é deixar que os preceitos ideológicos ditem e amarrem o bom senso. A capacidade de dialogar e de negociar, nunca pode ser perdida. Isto porque pode levar a um impasse político, que impede a tomada de decisões importantes.
Somemos a isto a polarização, onde tudo vale de modo a agradar ao eleitorado, o que cria um clima de intolerância e violência, que prejudica o debate político.
O que vai atrás dito não vos lembra nada?
4. Há dias, na SIC, vi uma peça sobre o IVA, onde um comerciante dizia que mantinha o imposto a zero para não perder clientes.
Por cá a teoria é outra: não se reduz 30% no IVA porque isso não se reflectirá no consumidor final, pois os empresários irão absorver a redução do imposto.
Em conversas que tenho com empresários, dizem-me estes que não gostam dos argumentos do Governo Regional para não reduzir o IVA. Todos rejeitam as acusações, de que são eles quem iria beneficiar da redução do imposto. Além disso, consideram que as declarações de Albuquerque são infelizes e contraditórias com as loas de confiança que está sempre a fazer ao mundo empresarial regional.
Os nossos empresários são, na sua esmagadora maioria, pessoas de bem que não aguardam a baixa do IVA para ganharem mais, mas para poderem baixar preços.
5. O Presidente do Grupo Parlamentar do PS Madeira, uma das partes da “maioria de bloqueio” na ALRAM, veio, mais uma vez, articular aleivosias. No Congresso do seu partido considerou a Iniciativa Liberal como um adversário. Quanto a isto, mal seria se o não considerasse. Mas mais uma vez veio, abusivamente como é seu apanágio, concluir da IL o que não tem de concluir.
Segundo esta constante figura do PS, o meu partido é um adversário, porque, na noite eleitoral, me mostrei disposto a conversar com o vencedor das eleições. Esquece Victor Freitas que, como liberal, estou sempre disponível para conversar, para debater, seja lá com quem for. Até com ele. E faço da “nuance”, porque liberal, uma constante. Aliás, tenho ideia de ter ouvido da boca do novo Presidente do PS Madeira, quase o mesmo num dos discursos que proferiu na reunião magna dos socialistas.
Mas há mais, é que o Presidente do GP do PS na ALRAM, passa a vida em diálogo com a maioria, e a maioria com ele. Basta assistir a uma qualquer sessão do Plenário. O constante diálogo entre a bancada do “mesmo” com a bancada do “mais do mesmo” é tanto, que impede, muitas vezes, que outros possam dizer da sua justiça.
E o que dizer do diálogo que existe entre o PSD e o PS nos arranjos quando apresentam listas conjuntas a órgãos, cargos e prebendas? Ou as propostas conjuntas, PSD/PS, caem do céu?
E que isto de cuspir para o ar tem os seus problemas.
6. Porque convidado, e porque faz parte das regras, fui assistir à sessão de encerramento do Congresso do PS Madeira. Estes olhos, que a terra há de comer, viram bem que Carlos Pereira se recusou a cumprimentar Paulo Cafôfo, que ficou de mão no ar. Começa bem a tal coisa do diálogo…
7. Enquanto ouvia o discurso de Pedro Nuno Santos, comecei a pensar que se ele fizesse uma banda, ia ser engraçadíssimo. Começaria por decidir qual o nome da mesma. As sugestões foram inúmeras: “Pedro Nuno e os Comboios”, “Pedro Nuno e a TAP”, “Pedro Nuno e a Habitação”, “Pedro Nuno e o Aeroporto”, “Pedro Nuno e a Indemnização”, “Pedro Nuno e os WhatsApp”, “Pedro Nuno e os Pedro Nuno”. Depois de muita discussão escolheram o nome “Pedro Nuno e os Inaudíveis”, uma banda tão indie que nem o Google consegue encontrá-los, uma sensação no mundo da música de que ninguém ouviu falar, um som tão alternativo que até eles têm dificuldade em o ouvir.
A voz de Pedro Nuno é tão difícil de ouvir, que os rumores dizem que foi contratado para dobrar mimos em filmes infantis. Tem a habilidade especial de cantar em tons que nem os morcegos detectam.
O baterista bem que tenta marcar o ritmo, mas é tão descompassado que os fãs se interrogam se está realmente presente ou se é apenas uma ilusão acústica. Insiste que toca numa frequência que só pode ser ouvida por seres de uma dimensão superior.
O guitarrista é um visionário que redefiniu a arte de atacar a guitarra sem nunca tocar nas cordas. O mundo agradece. Acredita firmemente que o verdadeiro som de uma guitarra reside no potencial não realizado das suas cordas intocadas, uma filosofia que infelizmente não ajuda muito nas vendas de álbuns.
O baixista é... bem, ninguém sabe quem é o baixista. É uma espécie de lenda urbana; algumas pessoas afirmam tê-lo visto, mas esses relatos são tão confiáveis quanto o avistamento de Óvnis.
O último álbum da banda, “Vácuo”, é uma coleção de 12 faixas de silêncio puro, vendidas num vinil transparente que os fãs têm dificuldade em conseguir ver. A banda argumenta que é sua obra mais pessoal até agora, desafiando os ouvintes a encontrar o significado profundo nas subtilezas do nada.
Na sua última digressão, “A Odisseia do Silêncio”, tocaram em locais tão “underground”, mas tão “underground”, que ninguém sabia onde ficavam, a não ser a banda. O ponto alto da turné foi um espectáculo surpresa na cave de um prédio abandonado, onde ninguém apareceu porque se esqueceram de divulgar a sua localização. No entanto, Pedro Nuno considera-se um sucesso retumbante, reafirmando o seu status como a banda mais exclusiva que ninguém nunca viu, ouviu, ou mesmo sabe que existe.
No entanto, se tudo correr mesmo mal, vamos ter de levar com ele.
8. “Compromisso inabalável de que estarei na liderança do PS até 2027”. Será um compromisso igual ao que teve com os funchalenses em 2017, que o levou a abandonar a presidência da Câmara em 2019 - mesmo tendo dito 15 dias antes, e enquanto recandidato ao município, que o não iria fazer? Ou o compromisso em ser deputado regional que o levou a deixar a ALRAM em 2021?
O “inabalável” está para Cafofo como o “irrevogável” esteve para Portas.
9. E agora aí vem ele, o eterno candidato. Cafôfo será o candidato do PS. Necessité oblige.