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Dizer a verdade em 2024?

“Dizer a verdade tem de ser mais importante do que pertencer a um grupo”, frase dita por Lídia Jorge numa entrevista a um periódico nacional.

Pertencer a um grupo é, hoje em dia, o que de mais fácil existe.

A proliferação das redes sociais é um campo para que as tribos se enxameiem de pessoas que só aparentemente têm algo em comum; realmente, a única coisa em comum que possam ter os seguidores de “famosos” e “influencers” é exactamente isso: são “seguidores”. E para os “seguidores” pouco importa se o/os seu/s “influencer/s” preferido/s estão a dizer qualquer tipo de verdade: os seguidores engolem tudo – isca anzol, cana e, se puderem, o influencer que deitou a sua “verdade” no mar da imaginação das suas tribos, ou grupos se assim os podemos chamar.

Ele é um cozinheiro famoso que diz que comer cenouras caramelizadas em cama de espuma de aipo aromatizado com hortelã é uma coisa do outro mundo, mas ele pode ser uma activista de qualquer barbaridade a dizer que a sua barbaridade é melhor do que a barbaridade do vizinho, ele pode ser um analista/comentador que ao analisar/comentar um jogo, uma atitude de outrem, por vezes “esquece” de nomear a verdade toda escondendo partes importantes da história que está a contar, ele pode ser um jornalista que “orienta” o seu entrevistado para que este diga somente aquilo que lhe interessa transmitir como entrevistador, enfim, o que quisermos imaginar nesta santa terra de Deus que além de ter criado o Homem e a Mulher também criou os/as/es influencers!

Qualquer história serve para atrair a atenção de incautos.

Uma história romanceada, eventualmente baseada numa real vivida por quem a publica, diz-nos que com imaginação e colocada na rede social apropriada pode ter uma série de “likes” e/ou polegares para cima só porque alguém gostou da prosa ou a mesma lhe “disse” algo. Histórias imaginadas, com ou sem fundo real, é o que mais há por aí, nas redes sociais. Não teriam muita influência nos comportamentos gerais, mas uma qualquer história saída da imaginação de, digamos, um jornalista, ou um/a analista de qualquer coisa, que utiliza o seu espaço e tempo de antena para insinuar e fomentar não realidades ou até distorcer a verdade, ocultando, por exemplo o contraditório indispensável na divulgação da boa verdade, estará a favorecer o grupo ao qual quer pertencer ou almeja ser “influencer” em detrimento da verdade que, como diz Lídia Jorge, tem de ser mais importante que o tal grupo.

Vivemos num tempo em que a superficialidade é exposta nas ditas redes sociais fazendo com que a ética, o bom senso e os bons costumes sejam secundarizados em favor da necessidade de agradar às tribos.

Os seguidores na ânsia de demonstrar a sua aceitação da história publicada pelo seu “influencer” preferido apressam-se a pôr mais um like no post do dito “influencer”, esquecendo-se que essa pessoa vive e alimenta-se desses polegares para cima colocados por inúmeros incautos para quem só a superficialidade e o acessório são importantes, pondo de lado o saber que é preciso para que possa haver um conhecimento mais profundo do que existe abaixo da superfície para que a vida seja sentida, para que a ética e o bom senso não sejam palavras vãs e para que a verdade possa ser mais importante do que aquilo que o grupo pretende ouvir.

Confesso que não espero qualquer alteração de fundo nos próximos tempos no que diz respeito à divulgação da(s) verdade(s), até porque há vários actos eleitorais no horizonte, campo sempre fértil para se poderem romancear histórias e dourar ideologias que saem dos baús nestas épocas e aos baús retornam logo de seguida, porque como o coração não sente o que os olhos não vêm, para a História ficam as histórias romanceadas contadas por “influencers” de ocasião ou de profissão.

Um Feliz 2024 para todos!