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O maior erro

O facto de Portugal ser um país à beira-mar plantado, numa extremidade peninsular do continente europeu, tem o condão de atrasar as transformações que acontecem no resto da Europa. Todavia, essas alterações, acabam por cá chegar. Mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor alarido.

Nos últimos 10 anos assistimos a dois fenómenos complexos na liderança política de muitos países. Se, por um lado, temos a forte possibilidade de ver a liderança dos Estados Unidos da América disputada por dois cavalheiros com 77 e 81 anos, por outro vemos Emmanuel Macron anunciar a nomeação de Gabriel Attal de 34 anos para primeiro-ministro francês.

Attal é uma figura em ascensão no meio político francês, tendo ocupado diversos cargos por pouco tempo. Primeiro foi porta-voz do Governo, depois Ministro das Contas Públicas e era, até esta semana, Ministro da Educação. É também o Ministro mais popular junto dos franceses.

Rapidamente me lembrei de Gabriel Boric, Sanna Marin e Jacinda Andern que aos 35, 34 e 37 anos se tornaram Presidente e Primeiras-Ministras dos respetivos países. Podia lembrar Sebastian Kurz que, aos 31 anos, - depois de ser Ministro das Relações Externas da Áustria aos 27 anos - assumiu o lugar de Chanceler desse país. Os mais atentos dirão que as funções dos nomes invocados são diferentes de país para país, mas uma coisa é inegável: todos assumiram lugares de relevo quando, provavelmente, poucos achariam possível.

Os jovens líderes anteriormente referidos terão tido sucessos e infortúnios. Uns ainda governam, outros já não, mas todos eles ascenderam a estes lugares entre 2017 e 2024, numa Europa polarizada face aos fenómenos das migrações. E o legado destes políticos foi, na sua generalidade, a desburocratização dos processos relacionados com as migrações, o rigor nos critérios para admissão de pessoas estrangeiras e a sua inserção na cultura do país que dirigiam. Também se dedicaram à definição de uma política económica menos burocrata, regulada e mais dinâmica. Grosso modo, houve uma melhoria das condições económicas desses países porque houve coragem dos jovens líderes políticos em mudar o paradigma nas tomadas de decisão.

Uma última nota: segundo dados de 2022 da União Parlamentar, o Parlamento mais jovem do mundo era o norueguês com 13,6% de legisladores com menos de 30 anos. E em Portugal quantos eram nesse mesmo ano? Apenas 3,4%!

Esta semana foi conhecido que 850 mil jovens com idades compreendidas entre os 15 e 39 anos deixaram o país e residem no exterior. É difícil não questionar quão diferente poderiam ser as coisas se “apenas” 30% destes jovens ficassem em Portugal.

Tal como nos Partidos, nos clubes e nas artes sem jovens não há futuro. Em tudo deve existir equilíbrio. Mas desperdiçá-los não será o maior erro deste país?