Fact Check Madeira

Será verdade que em todas as 13 listas há elementos que saltaram de outros partidos?

None

Às eleições legislativas regionais da Madeira de 24 de Setembro apresentaram-se 13 listas de partidos e coligações, que envolvem um total 1.222 candidatos e 13 mandatários. Há várias candidaturas encabeçadas por pessoas que tiveram militância noutros partidos e alguns até desempenharam cargos de representação política em parlamentos e órgãos municipais. A mudança de projecto é absolutamente livre e um direito que a todos assiste, mas há quem veja no exercício dessa opção uma manobra de oportunismo, na procura de dividendos pessoais. Será que em todas as treze candidaturas há este tipo de ‘salta partidos’?

Num exercício que não pretendeu nem poderia ser exaustivo, dado o elevado número de candidatos em causa, o DIÁRIO percorreu as várias listas afixadas no tribunal do Funchal e encontrou muitos exemplos de pessoas com percurso partidário diversificado. Comecemos pelas que surgem em lugares mais destacados.

Por exemplo, o cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal, Nuno Morna, teve um longo percurso de militância e participação política no CDS. O número 3 da lista, Duarte Gouveia, foi candidatos às eleições regionais de 2007 e 2011 pelo PS e até foi eleito deputado.

O cabeça-de-lista do RIR, Roberto Vieira, também passou pelo PS e depois pelo MPT.

Já o ‘número 1’ da Alternativa Democrática Nacional (ADN), Miguel Pita, militou no Chega durante três anos. Foi mesmo o candidato deste partido a presidente da Junta de Freguesia da Sé, nas autárquicas de 2021. Já o candidato em segundo lugar na lista do ADN, João Gilberto Abreu, foi candidato pelo PDR nas eleições regionais de 2015.

No PTP, o cabeça-de-lista Quintino Costa foi militante e dirigente do PCP durante muito tempo, até se juntar ao projecto de José Manuel Coelho, que agora assume as funções de mandatário. Este último também foi militante comunista e foi eleito deputado ao parlamento regional, primeiro pelo PND e depois pelo PTP. O ‘número 3’ desta lista é o enfermeiro José Edgar Silva, que foi indicado pelo PTP para a primeira vereação presidida por Paulo Cafôfo na Câmara do Funchal, mas que, depois disso, surgiu a representar o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP) na Madeira.

O cabeça-de-lista do Livre é Tiago Camacho, que nas eleições autárquicas de 2017 representou o Bloco de Esquerda no círculo do Porto Santo. A lista do Livre tem outro ex-bloquista no ‘número 3’, Carlos Plácido Andrade, e apresenta num lugar mais discreto o ex-líder regional do antigo Partido de Solidariedade Nacional (PSN) José Manuel Côrte da Luz.

Na coligação ‘Somos Madeira PSD/CDS’ há situações particulares. Foram atribuídos lugares elegíveis a Ricardo Nascimento (14.º) e a José António Garcês (18.º), que em anteriores eleições autárquicas, ‘roubaram’ as câmaras da Ribeira Brava e São Vicente ao PSD, ao liderarem candidaturas independentes que tiveram o apoio mais ou menos declarado de partidos como PS e CDS. Na lista da coligação que actualmente governa a Madeira aparece no 31.º lugar Gonçalo Pimenta, que há muitos anos é militante e dirigente do CDS, mas que teve o seu baptismo político na Juventude Socialista.

No PS, a actual deputada Olga Fernandes surge no 8.º lugar. Em ‘bocas’ no parlamento regional, por várias vezes já foi mencionado o seu passado de ex-militante do PSD. O 34.º da lista, Diogo Goes, tem as mesmas origens partidárias.

Na lista do JPP, a candidata efectiva Liliana da Gama (n.º 21) foi candidata suplente (n.º 43) da lista do PAN nas eleições regionais de 2011. E Raul Ribeiro (n.º 22) foi militante, dirigente e autarca do CDS até Fevereiro de 2018. Já Duarte Dória (n.º 35) esteve ao lado de Miguel Albuquerque nas eleições internas do PSD e depois esteve próximo da coligação encabeçada por Paulo Cafôfo.

Na lista da CDU, Artur Andrade (n.º 9) representou, há muitos anos, a UDP e até exerceu o mandato de deputado na Assembleia Legislativa da Madeira. Já Leonel Nunes (n.º 16) teve uma breve passagem pela JS no início do seu percurso político.

No PAN, quem tem maior experiência parlamentar com outras ‘vestes’ partidárias é Marco Gonçalves. O actual mandatário e candidato foi cabeça-de-lista da CDU nas eleições regionais de 1999 e exerceu o mandato de deputado.

Em situação semelhante está Hélder Spínola, mandatário da lista do Bloco de Esquerda, que já foi deputado tanto pela CDU como pelo PND. Ainda na lista do PAN, Doroteia Abreu (11.ª suplente) foi candidata pela coligação Plataforma dos Cidadãos (PDA/PPM) nas eleições regionais de 2015.

No Chega, o mandatário Francisco Gomes já foi deputado do PSD na Assembleia da República e no parlamento regional, tendo-se depois desvinculado e andado no círculo do CDS. O ‘número 10’ da lista do Chega é Américo Dias, um advogado que se inscreveu como militante do CDS em 2011, partido em cujas listas se candidatou nas eleições regionais desse mesmo ano e de 2015. Nas eleições autárquicas de 2021, foi o candidato da coligação PPM/Aliança à Câmara do Funchal. Ainda no Chega, o candidato Carlos Figueira (suplente n.º 23) foi militante do PS até há poucos anos e chegou a ser eleito para a assembleia de freguesia de São Gonçalo na coligação ‘Confiança’.

Por fim, o ‘número dois’ da lista do MPT, Miguel Câncio, foi militante do ‘Nós Cidadãos’ em 2018.

Em jeito de conclusão, confirma-se que em todas as candidaturas há elementos que já representaram outras forças partidárias, embora essa seja claramente a excepção e não a regra. A maioria dos candidatos nunca militou noutro partido.

Em todas as listas há candidatos ou mandatários que já foram militantes de outros partidos.