País

Organização médica palestiniana vence Prémio Champalimaud de Visão

None
Foto DR

Uma organização médica palestiniana de luta contra a cegueira venceu o Prémio António Champalimaud de Visão, distinguindo a contribuição para a investigação científica e tratamento desta doença que, na Palestina, é 10 vezes superior à verificada no Ocidente.

Num comunicado enviado hoje à agência Lusa, a Fundação Champalimaud afirma que o Grupo de Hospitais Oftalmológicos de São João de Jerusalém (SJJEHG, na sigla inglesa) é a única instituição filantrópica que presta, há mais de 140 anos, cuidados oftalmológicos especializados em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental - zona de conflito entre israelitas e palestinianos.

Numa entrevista à Lusa em Lisboa, Ahmad Ma'ali, administrador da instituição, destacou ser "uma honra e um privilégio" receber o Prémio Champalimaud Vision Award 2023.

"É o maior prémio a nível mundial para a visão e penso que é o reconhecimento dos nossos esforços humanitários, que temos vindo a colocar nos cuidados aos doentes nos últimos 140 anos. Estamos muito entusiasmados com este prémio, que nos dá uma plataforma a nível mundial, para que as pessoas possam reconhecer os esforços que temos vindo a desenvolver na luta contra a cegueira", afirmou. 

Para Ma'ali, o prémio "veio na altura certa", porque permite o reconhecimento "a nível mundial" de que o Grupo é "uma das instituições internacionais mais importantes na área da luta contra a cegueira".

Ma'ali lembrou que, em 2022, o SJJEHG assistiu cerca de 143.000 pacientes (quase 12.000 por mês), tendo realizado 6.900 grandes cirurgias (o que dá uma média mensal de quase 580).

Tratando-se da única instituição na região onde médicos e enfermeiros palestinianos podem especializar-se em oftalmologia, o administrador da instituição disse à Lusa que o SJJEHG conta com 45 médicos, 195 enfermeiros e 30 técnicos de saúde.

"O contributo de diversos doadores e o esforço incansável de toda a equipa têm um objetivo: permitir o tratamento dos doentes, independentemente da etnia, religião ou capacidade financeira", adiantou Ma'ali à Lusa, lembrando as dificuldades no terreno.

"Vivemos num país que sempre teve os seus próprios problemas de segurança política. O São João de Jerusalém está situado em Jerusalém Leste e por isso muitos dos nossos pacientes, entre 50% a 75%, têm de viajar da Cisjordânia e de Gaza para o hospital. Para tal, têm de ter passes especiais, autorizações especiais e têm de as solicitar às autoridades israelitas", explicou.

"No entanto, temos uma boa relação de trabalho com as autoridades, temos uma boa relação de trabalho com a Autoridade Palestiniana e com as autoridades israelitas, para nos ajudarem a garantir que o nosso pessoal, os nossos bens, o nosso equipamento e os nossos medicamentos são transportados para a Cisjordânia e também para Gaza. Sim, há dificuldades de acesso, mas conseguimos resolvê-las se abordarmos as autoridades", acrescentou o administrador do SJJEHG. 

Além disso, prosseguiu, os residentes na região têm dificuldade em obter os tratamentos de que necessitam, pois problemas financeiros e as restrições de circulação "atrasam" o acesso aos tratamentos, "o que pode ter consequências graves numa doença oftalmológica".

Ma'ali lembrou que, em 2008, o SJEHG realizou um estudo epidemiológico exaustivo na região, que permitiu percecionar que a taxa de cegueira nos territórios palestinianos era dez vezes superior à verificada no Ocidente.