Enviado dos EUA à cimeira africana do clima defende mais financiamento para países pobres
O enviado dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, enfatizou, na primeira Cimeira Africana do Clima, a necessidade de conceder "financiamento em condições favoráveis" aos países pobres para poderem desenvolver os setores da energia renovável.
"Temos de reduzir o risco" para os investidores, disse Kerry em Nairobi, onde o Governo queniano e a União Africana (UA) coorganizam a cimeira que começou ontem e decorre até quarta-feira, referindo que "líderes em todo o mundo dizem que lhes falta financiamento" e que é preciso "financiamento concessional".
Nesse sentido, o enviado do Presidente norte-americano insistiu na necessidade de expandir os mercados de carbono, que permitem a compra de créditos ou títulos para compensar as emissões de gases com efeito estufa e muitas vezes são adquiridos por grandes empresas.
Kerry reconheceu que houve por vezes "abusos" nesse setor, quando "não havia diretrizes ambientais suficientes" para determinar como esses mercados devem funcionar e como o crédito deve ser medido.
"Mas isso não significa que não possa ser feito", defendeu o ex-secretário de Estado, salientando que os mercados de carbono "não são uma panaceia, mas são mais uma ferramenta".
Esta questão, que confronta governos e ativistas, causou polémica na preparação da cimeira, depois de mais de 400 organizações terem publicado uma carta, em agosto, na qual classificaram os mercados de carbono como uma "falsa solução", que "encorajará as nações ricas e as grandes corporações a continuar a poluir o mundo, em grande detrimento de África".
Sobre a crise climática, que atinge especialmente os países africanos, Kerry lamentou "o que está a acontecer no planeta hoje, que está a causar esta destruição extraordinária, cheias incêndios ou subida do nível do mar", e que é "um dos problemas mais perigosos de toda a história da humanidade".
"Este é um problema criado por humanos, mas também pode ser resolvido por humanos", defendeu o enviado dos Estados Unidos para o clima.
No final da cimeira, que conta com a presença de mais de 20 chefes de Estado e de Governo africanos, bem como de líderes de outras regiões do mundo e de organizações internacionais, está prevista a adoção da chamada "Declaração de Nairobi", um documento que procura articular uma posição comum africana para diferentes fóruns globais.
Os participantes querem ter uma perspetiva unificada do continente para a sua participação na cimeira do clima COP28, no Dubai, marcada para o final do ano, a Assembleia Geral da ONU, perante o Grupo dos Vinte (G20, bloco de economias ricas e em desenvolvimento) ou junto das instituições financeiras internacionais.
África abriga alguns dos países mais afetados pelas alterações e fenómenos climáticos, onde se inclui, por exemplo, Moçambique, quando os países africanos estão entre os menos responsáveis pela crise climática global.