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Fact Check Madeira

"O facto de se usar o manual digital não significa que o aluno deixe de escrever”?

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"O facto de se usar o manual digital não significa que o aluno deixe de escrever”. A afirmação é do secretário regional de Educação, Ciência e Tecnologia, Jorge Carvalho.

Será verdade?

O governante quis com esta declaração tranquilizar os encarregados de educação quando participava numa cerimónia de entrega de manuais digitais e respectivos tablets a alunos do Colégio Infante D. Henrique falando relativamente à segurança dos equipamentos e aos respectivos conteúdos didáticos e pedagógicos, aos quais estão exclusivamente adstritos, recordou o alívio do peso das mochilas associado e desmistificou a ideia de que os alunos deixam de escrever [correctamente] com esta metodologia.

"O facto de se usar o manual digital não significa que o aluno deixe de escrever; já antes não escrevia apontamentos nos manuais em papel, mas sim nos cadernos de suporte, o que continua a acontecer", sublinhou Jorge Carvalho, elogiando, logo de seguida, o Colégio por dotar os seus alunos de uma "ferramenta que lhes permite aceder a informação de forma muito rápida e desenvolver competências que de outra forma não poderiam", bem como os professores pelo "esforço feito na alteração de metodologias e estratégias" que a transição digital implica.

Por seu turno, o director do Colégio Infante D. Henriques, Padre Jorge Magalhães, agradeceu a parceria com a SRE que permitiu concretizar aquele projecto.

"Sem esta colaboração, a nossa escola não teria forma de dar este passo, que é revolucionário, em direcção ao futuro, porque pensamos que, de facto, os nossos alunos estarão melhor preparados para enfrentar um mundo que é cada vez mais digital e tecnológico. Por isso, agradecemos esta possibilidade dada aos nossos alunos de terem esta ferramenta”, concretizou.

Mas nem todos têm essa opinião 'cor-de-rosa' dos benefícios dos manuais digitais. Francisco Oliveira do Sindicato dos Professores da Madeira (SPM) já anunciou que a partir deste mês vai avançar com um inquérito para tirar dúvidas: “Está a ser ultimado por uma equipa especializada de que fazem parte pessoas da UMa que têm estudado o problema, para além de SPM, pessoas que trabalham ou trabalharam com manuais digitais”.

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O dirigente sindical diz que saber que “há muitos interesses financeiros”, por detrás desta medidas tecnológica lembrando que “a Porto Editora tem um acordo com a Samsung” para vender tablets, portanto na sua opinião “são jogos de poder e de interesses financeiros que nós temos de acautelar”, mostrando a sua desconfiança sobre a massificação dos equipamentos.

Já sabíamos da posição da Suécia em relação aos manuais digitais, que não é o único país que está a retroceder, há outros que começar a olhar com desconfiança, mas a Suécia será mais evidente" Francisco Oliveira, SPM
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E quando tudo parecia ser uma medida sem defeito, a Suécia, Dinamarca, Reino Unido e Noruega são alguns dos países que, após defenderem uma maior presença dos manuais digitais em sala de aula, decidiram dar um passo atrás.

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Por cá 9.259 discentes já usufruíam dos manuais digitais e este ano lectivo serão distribuídos mais 5 mil num projecto da Secretaria Regional da Educação, Ciência e Tecnologia da Madeira assumido por todas as escolas públicas da Região e pretende uma alteração profunda no modo de funcionamento da sala aula, através da introdução de novas metodologias de trabalho que permitam simultaneamente a flexibilidade curricular, o princípio da educação inclusiva e a diferenciação pedagógica.

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Actualmente o projecto de 8,5 milhões de euros encontra-se implementado nos 5.º, 6.º, 7.º e 8.º anos de todas as escolas públicas da Região e no 9.º ano das escolas dos concelhos da Ribeira Brava, Calheta e São Vicente. 

Está prevista a expansão para o secundário nos próximos anos lectivos, encontrando-se em fase piloto duas turmas (uma de 10.º ano e outra de 11.º ano) da EBS Gonçalves Zarco, quatro turmas de 10.º ano da ES Francisco Franco, quatro turmas de 10.º ano da ES Jaime Moniz, duas turmas da EP Francisco Fernandes e uma turma de 10.º ano da EBS de Machico.

Num investimento de 8,5 milhões de euros, o equipamento fornecido é visto como uma ferramenta de trabalho e de estudo. Por este motivo, os equipamentos encontram-se protegidos com sistemas de segurança, estando o seu funcionamento condicionado a dois perfis. Em ambos os perfis, a instalação de aplicações está restringida à lista de aplicações permitidas e identificadas pelas escolas. Todos os equipamentos são também monitorizados geograficamente, através da localização por GPS.

Existem estudos a decorrer que desaconselham o "uso excessivo de dispositivos digitais" considerando que "pode interferir no desenvolvimento cerebral normal, especialmente nas áreas relacionadas à atenção, memória e controlo impulsivo, assim como nas habilidades de comunicação das crianças".

E as desvantagens não se ficam por aqui. Pode haver prejuízo "na concentração da atenção, pois os estímulos digitais intensos e imediatos acabam por prejudicar a capacidade de as crianças se envolverem em atividades que exijam uma maior atenção sustentada".

"O facto de se usar o manual digital não significa que o aluno deixe de escrever”?