Quando os papéis se invertem
“Existe, da parte do governo, e da parte do senhor ministro, uma total intenção de não dialogar com os médicos”. Reconhece estas palavras? Pois bem… foram ditas pelo então interno de Medicina Interna, Dr. Manuel Pizarro, em 1992.
Então e o que é que mudou, desde 1992? O interno, Dr. Manuel Pizarro, despiu a bata de médico, e passou a usar o casaco de ministro… As palavras proferidas na altura continuam bem atuais! “Existe, da parte do governo, e da parte do senhor ministro, uma total intenção de não dialogar com os médicos”.
Após a conclusão da faculdade, os médicos entram nas diferentes vagas das especialidades médicas que Portugal dispõe. Claro está que muitos preferem não ser escravos deste Serviço
Nacional de Saúde e emigrar para uma Alemanha, Suíça ou país escandinavo qualquer, receber 4x mais e, acima de tudo, ser reconhecido e valorizado!
Durante o internato, o médico recém-licenciado vê-se em difíceis condições de trabalho, com múltiplas horas de enfermaria/urgência, baixos salários, cargas fiscais elevadas, formações caras e pagas do próprio bolso e, acima de tudo, incapacidade de conciliar a vida profissional e pessoal…
E o mais ridículo disto tudo é que, quando termina a sua especialidade, não tem garantias de que fica no hospital que o formou! Isto porque ainda não iniciou a sua carreira médica! O internato médico, que corresponde a 4, 5 ou 6 anos de formação, não faz parte da carreira médica! O médico interno, desvalorizado pelo setor público, acaba por migrar para o privado ou para fora. Basicamente, Portugal forma especialistas para fora, por pura incompetência dos senhores que mandam no país que não conseguem criar condições que segurem estes profissionais.
Os médicos internos representam mais de 10.000 médicos no Serviço Nacional de Saúde (quase 1/3 de todos os médicos do setor privado). São eles quem garante o funcionamento das urgências, dos blocos, das enfermarias… são eles quem mantêm a saúde em Portugal! E o ministro, ex-interno de Medicina Interna sabe disso!... ou pelo menos sabia, em 1992, quando disse “Existe, da parte do governo, e da parte do senhor ministro, uma total intenção de não dialogar com os médicos”. É importante criar condições que permitam a fixação destes médicos formados num ensino de excelência! É importante valorizar o interno, melhorando a sua formação e oferecendo condições de fixação!
Por isso aconteceu a greve dos médicos internos, nos passados dias 23 e 24 de agosto. E por isso é importante termos um novo conselho de internos, forte, dinâmico e capaz de representar estes mais de 10.000 excelentes profissionais! Precisamos de mudar este paradigma… precisamos de um plano B! Precisamos de ser “Internos pelos internos”!