Raspadinhas
Numa altura em que andam todos aflitos com os malefícios da “raspadinha”, lembro-me de já ter enviado em Julho de 2011 à imprensa uma carta sobre os perigos do jogo, nomeadamente deste flagelo. Infelizmente, com a excepção de um jornal gratuito existente na época, tal carta não mereceu a atenção das outras redacções. Os resultados estão à vista de todos. Tabacarias e quiosques onde outrora os escaparates estavam repletos de livros, jornais e revistas, hoje, no seu lugar, só vemos paredes forradas de “raspadinhas” e de maços de cigarros vulgares, de tabaco aquecido e electrónico.
Resumindo, a informação e cultura, deu lugar a dois perigosos vícios. O do jogo e o do tabagismo. Um estudo do CES/UM concluiu que a “raspadinha” é consumida pelos mais pobres e idosos e que por tratar de uma lotaria instantânea, não têm que esperar pelo dia do sorteio. A esperança destes viciados, é que naquele dia possam ir a um restaurante comer algum manjar que nunca provaram ou poder aviar a receita médica na farmácia. A Santa Casa, que viu nisto mais uma receita para poder ajudar os mais necessitados, não viu que estamos perante o fenómeno do Boomerang cujo objecto depois de arremessado volta à mão de quem o atirou. Ora o viciado na “raspadinha” também lá voltará para pedir mais e mais auxilio. Só que, por aquilo que se sabe, a Santa Casa pelos vistos também “raspou” errado e está numa situação inédita de ter que cortar nos gastos, nomeadamente em apoios de solidariedade social.
Jorge Morais