ONU condena "eliminação" das mulheres da vida pública
Responsáveis da ONU condenaram hoje no Conselho de Segurança "a eliminação" das mulheres da vida pública no Afeganistão, onde as proibições impostas pelas autoridades talibãs são aplicadas "com cada vez mais severidade".
As reivindicações das mulheres afegãs "não se alteraram", mas "há três grandes desenvolvimentos que exigem a nossa atenção urgente", afirmou a diretora da ONU Mulheres, Sima Bahous.
"A influência das mulheres na tomada de decisões sofreu uma redução dramática, e não apenas ao nível nacional ou provincial", mas também, e sobretudo, "ao nível doméstico", tendo as mulheres cada vez menos possibilidade de contribuir financeiramente para o rendimento da sua família, alertou.
As restrições impostas às mulheres, que não param de aumentar, "estão a ser aplicadas cada vez mais frequentemente e com uma severidade crescente, incluindo pelos homens da família, uma vez que os talibãs os consideram responsáveis pela aplicação dos decretos", acrescentou.
Desde que regressaram ao poder, em agosto de 2021, os talibãs, com a sua interpretação rígida do Islão, não pararam de restringir os direitos das mulheres afegãs. Num período de dois anos, as escolas secundárias e depois as universidades fecharam as portas às mulheres, assim como os parques, os ginásios e os 'hammams' (banhos turcos).
Em resultado disso, a saúde mental é agora a principal preocupação das mulheres afegãs e "o suicídio e os pensamentos suicidas estão por todo o lado", observou Sima Bahous.
"Elas dizem-nos que são prisioneiras que vivem nas trevas, confinadas às suas casas, sem esperança nem futuro", insistiu, acrescentando que a eliminação das mulheres da vida pública "é como um medo perpétuo de uma morte violenta".
Perante este cenário, apelou aos doadores para que encontrem formas "inovadoras" -- dinheiro vivo, bolsas de estudo, migração segura - para ajudar estas mulheres que têm "a coragem" de desafiar as restrições, por exemplo "abrindo escolas clandestinas".
Mas depois de alguns doadores terem reduzido a ajuda ao país após o regresso dos talibãs, só 28% do plano de assistência da ONU para o Afeganistão, no valor de 3,2 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) para 2023, está financiado, indicou Rosa Otunbayeva, chefe da Missão das Nações Unidas no Afeganistão (MANUA), apelando para a "generosidade".
"Muitos programas já tiveram de encerrar devido à falta de fundos, enquanto se aproxima o inverno - isso significa que 15,2 milhões de afegãos que estão atualmente numa situação de insegurança alimentar grave poderão padecer de fome nos próximos meses".", sublinhou.
A responsável da MANUA reiterou, por outro lado, a importância para a ONU de prosseguir "um diálogo" com as autoridades talibãs, salvaguardando que "diálogo não quer dizer reconhecimento".
"Não pode existir legitimidade internacional sem legitimidade nacional", insistiu, descrevendo "um fosso cada vez maior" entre as autoridades e a população.