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O homem às voltas na tumba!

Ronald Reagan foi o primeiro político estrangeiro contemporâneo cujo nome interiorizei na infância.

Era a sua década! Um comunicador nato, discurso simples e muito claro: queremos um mundo mais democrático, onde o povo vota os seus líderes e muda-os quando não os quer mais. A liberdade de “dizer o que se pensa” é um direito a globalizar. E a economia de mercado deve vencer a economia estalinista e o mundo todo deve ser livre para trocas comerciais.

E disse-o sem rodeios em Berlim, em 1987, na comemoração dos 750 anos da cidade. O Muro era um símbolo da opressão, mas os membros do seu governo e os líderes europeus advertiram-no de exacerbar o ânimo na cidade. Ao seu estilo, falou aos berlinenses e ao mundo sem hesitações: “Sr. Gorbachev, venha aqui a este portão e abra este portão! Sr. Gorbachev, derrube este muro!” O resto é história. É história da Alemanha, mas também da Europa comunitária, como a conhecemos hoje.

Reagan simplesmente concluiu que o regime soviético estava a ruir, era ineficaz, oprimia os povos sob o seu jugo e, em breve, poderia desmoronar. Ele uniu o mundo ocidental, reforçou a NATO, desenvolveu um plano para acabar com a Guerra Fria, vencendo-a. Nas palavras da sua amiga Margaret Thatcher, Ronald Reagan havia vencido a Guerra Fria em nome do Ocidente e dos seus valores democráticos, isto sem disparar um tiro.

Acreditava profundamente que “A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção. Não a passamos para nossos filhos na corrente sanguínea. Deve ser defendida, protegida e repassada para que eles façam o mesmo”. Garantiu à direita americana e ao partido republicano o reconhecimento pela democracia e a liberdade no mundo.

Pensando aqui com os meus botões, o que Ronald Reagan diria do mundo se ainda fosse vivo?

Da invasão da Ucrânia de 2014 e 2022?

Da arrogância e desumanidade russa em Mariopol e Butcha?

Mas acima de tudo, o que pensaria do seu partido republicano, muito com discurso pró-russo?

Do negacionismo eleitoral de Trump?

Dos conservadores como Ron DeSantis, que chamou a guerra de uma simples “disputa territorial” cujo resultado em nada afeta ou interessa aos Estados Unidos?

Uma certa América procura o isolacionismo à medida que empobrece, à medida que perde referências históricas.

Assim, a Ucrânia terá uma curta janela temporal para desempatar a guerra, pois corre o risco de perder o apoio americano.

Reagan certamente estaria revoltado com este pró-Putinismo de Trump e seus comparsas. Certamente não se reveria nessas posições pró-russas dos conservadores radicais americanos.

Certamente daria um murro na mesa!

É curioso, e trágico, que os seus valores mais importantes, como o espirito democrático e a defesa da liberdade americana, tenham sido absorvidos por outras tendências. Hoje, na América parece vencer um extremismo folclórico, seja o MAGA, ou outro.

É um caso de estudo, em que nem sempre quem ganha a guerra, usufrui dela.

Certamente Ronald Reagan será um homem às voltas na tumba!