Papa critica "fanatismo e indiferença" com drama de migrantes
O Papa Francisco criticou hoje o "fanatismo e a indiferença" perante os migrantes que procuram uma vida melhor na Europa e agradeceu às organizações que os acolhem após as travessias do Mediterrâneo.
Durante uma visita ao porto francês de Marselha, Francisco presidiu a um momento de oração silenciosa num memorial dedicado aos marinheiros e migrantes que morreram no mar, rodeado do clero local e por representantes de organizações de resgaste de refugiados.
Na viagem de avião para Marselha, onde ficará este fim de semana, o Papa já tinha lamentado a "crueldade e a falta de humanidade" com que a Europa está a tratar o drama dos migrantes que chegam à ilha italiana de Lampedusa.
Hoje, Francisco criticou o "fanatismo e a indiferença" com que os migrantes são tratados e lamentou as mortes de quem procura fugir da pobreza, dos conflitos e da miséria.
"Este lindo mar tornou-se um enorme cemitério, onde muitos irmãos são privados do seu direito a uma sepultura", disse o chefe da Igreja Católica.
Francisco agradeceu às organizações de resgate pelo esforço que têm feito na tentativa de salvar vidas de migrantes e criticou aqueles que procuram evitar estas missões, com argumentos que disse serem "gestos de ódio, disfarçados de atos de equilíbrio".
O Papa disse que é um "dever da humanidade" ajudar quem atravessa o mar para a Europa e apelou a uma nova atitude perante este flagelo.
"Não podemos resignar-nos a ver seres humanos tratados como mercadorias de troca, presos e torturados de forma atroz", disse o Papa, acrescentando que "quando os rejeitamos" são novamente torturados, recordando na sua mensagem, embora sem os citar, os campos de refugiados na Líbia.
"As pessoas que, quando abandonadas nas ondas, correm o risco de se afogar, devem ser ajudadas. É um dever da humanidade, é um dever da civilização", disse Francisco, depois de o Governo italiano de Giorgia Meloni ter anunciado mais medidas restritivas na receção aos migrantes.
Em Marselho, Francisco pediu para as pessoas não se habituarem a "considerar os naufrágios como notícias e os mortos como números", dizendo que essas vítimas "são nomes e apelidos, são rostos e histórias, são vidas despedaçadas e sonhos despedaçados".
"Penso nos numerosos irmãos e irmãs afogados no medo, junto com as esperanças que carregavam nos seus corações. Diante de tal drama, as palavras não servem. São precisas ações. Mas primeiro é necessária a humanidade: silêncio, lágrimas, compaixão e oração", acrescentou o Papa.
O Papa chegou a Marselha para participar na terceira edição dos Encontros Mediterrânicos, uma iniciativa em que 60 bispos e jovens de vários países debatem vários temas relacionados com a região.