‘Verdes’, mas motivados
PAN liderado por Mónica Freitas traz juventude e 'toque' feminino à campanha, após 'golpe' inédito em 47 anos de autonomia
Partido recupera nas sondagens e ainda espera recuperar representatividade no parlamento madeirense
O Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) protagonizou uma das maiores reviravoltas da corrida eleitoral ao parlamento madeirense, que termina no próximo domingo, 24 de Setembro.
O momento da campanha: o virar da "maré verde"
Em bom rigor, o momento não aconteceu no período de campanha, que teve início a 10 de Setembro e termina esta sexta-feira, mas fosse o PAN um partido monárquico – e não assumidamente ambientalista e animalista – estaríamos perante o maior acto de 'lesa-majestade' de que há memória em 47 anos de Autonomia.
Falamos, claro, do afastamento de Joaquim Sousa como cabeça de lista do PAN às Eleições Regionais da Madeira, com intervenção da direcção nacional do partido.
O antigo director da Escola do Curral das Freiras – que tomou posse como líder da Comissão Política Regional do PAN em 12 de Novembro de 2022, após uma eleição com lista única que contou com a presença da porta-voz e deputada do PAN, Inês de Sousa Real – foi indicado como cabeça-de-lista do partido em Julho deste ano. Na apresentação (que contou também com a presença de Inês de Sousa Real) o partido prometia estender a “onda verde” à Madeira.
O ‘volte-face’ aconteceria, em vésperas da entrega da candidatura no Tribunal Judicial da Comarca da Madeira, quando PAN anunciou a sua substituição de Joaquim Sousa pela número dois da lista, Mónica Freitas.
PAN substituiu cabeça-de-lista na Madeira
Mónica Freitas é indicada como nova candidata, depois de Joaquim Sousa ter sido apresentado como candidato a meados de Julho pela porta-voz e deputada do PAN
A decisão foi justificada com "uma incompatibilidade" entre Sousa e a direcção regional do partido, o que levou à intervenção, no processo, da liderança nacional.
Joaquim Sousa considerou que a situação representava uma "golpada", opinando que já não era o cabeça-de-lista porque a líder do partido não quis. Também disse ter sido informado por três colegas da Comissão Política Regional do PAN que "já não queriam que fosse o cabeça-de-lista porque falava muito de educação e de assuntos fora da natureza e dos animais".
Em 11 de Agosto, a líder do PAN, Inês Sousa Real, que se deslocou à Madeira para entregar a candidatura no Tribunal do Funchal, disse que o partido a nível nacional "respeita a autonomia das regiões" e afirmou que só teve interferência neste processo "porque foi requerido" pela Comissão Política regional.
PAN entrega listas hoje às 18 horas no Tribunal do Funchal
O PAN vai apresentar, hoje, às 18 horas, a sua lista de candidatos às eleições legislativas regionais da Madeira de 24 de Setembro Próximo.
Entretanto, o ainda presidente da comissão política da Madeira do PAN, Joaquim Sousa, interpôs uma acção judicial num processo de contencioso eleitoral por ter sido afastado da candidatura às regionais de 24 de Setembro.
O defecho da ‘novela PAN’ aconteceu, ontem, após o Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal ter considerado improcedente a acção de Joaquim Sousa.
PAN Madeira ganha acção em tribunal e vai às eleições
Acção interposta por Joaquim Sousa foi considerada "improcedente" pelo Tribunal
"A cabeça de lista às eleições regionais da Madeira, Mónica Freitas, continuará junto da população, a ouvir os anseios dos madeirenses, a apelar ao voto no PAN e a defender os valores de proteção ao meio ambiente, defesa dos direitos animais e promoção do desenvolvimento sustentável que consideramos essenciais para o futuro da região", dava conta o comunicado remetido pelo secretariado de comunicação do PAN divulgado a partir de Lisboa.
"O partido irá plantar uma árvore por cada voto obtido a 24 de Setembro", foi a promessa deixada ainda na mesma nota.
Outro momento imprevisto que merece nota, foi o afastamento do mandatário do PAN da campanha eleitoral do PAN, Marco Gonçalves, devido a uma queda, em meados de Agosto.
Queda afasta Marco Gonçalves da campanha eleitoral
Diagnóstico do mandatário do PAN é "reservado"; recuperação "exigirá semanas de repouso absoluto, talvez meses", dizem os médicos
A cabeça-de-lista: a única mulher
Mónica Freitas foi a escolhida para “representar integralmente os valores de protecção ao ambiente, defesa dos direitos humanos e dos animais e promoção do desenvolvimento sustentável” defendidos pelo PAN.
A assistente social, de 27 anos, licenciou-se em Serviço Social em Coimbra. Apesar de ser muito nova em comparação os cabeças-de-lista das restantes candidaturas, tem um currículo sólido na área do activismo social, sobretudo, em movimentos associados à questão dos direitos das mulheres e da igualdade género.
Fez parte do projecto Girl Effect, que começou na Madeira, em 2014. É fundadora da Associação Womaniza-te, criada em 2018 e já esteve associada a uma campanha anti-bullying, mo âmbito de um Erasmus na Finlândia.
Integra o PAN desde 2021.
Descarregue e leia na íntegra a entrevista com a candidata, publicada na edição de 21 de Agosto do DIÁRIO:
Principais propostas
A campanha do PAN fez-se, essencialmente, de iniciativas de contacto com a população e reunião com entidades e associações regionais, na sequência das quais o partido foi apresentado as propostas que gostaria de levar à Assembleia Regional, caso lhe seja dada essa oportunidade no domingo. A destacar:
- Criação de programas de habitação destinados a jovens em risco de pobreza por emancipação precoce devido a motivos como violência doméstica ou falecimento dos progenitores;
- Criação uma comissão de protecção à pessoa idosa;
- Reforço das medidas de apoio a mães e pais trabalhadores com filhos com deficiência, doença crónica ou oncológica; Implementação de uma estratégia regional "contra todas as formas de discriminação e intolerância";
- Gestão eficaz de uma rede de casas de abrigo destinadas às vítimas de violência doméstica e aos seus filhos;
- Criação de um Polo Universitário no Porto Santo; Implementação da taxa turística na Madeira;
- Criação de uma zona de exclusão a carros em Câmara de Lobos; Criação de um Centro de Juventude no Caniço;
- Redução do IVA aplicado à alimentação e aos cuidados médico-veterinários de animais de companhia;
- Regulamentação da venda de animais de companhia "enquanto existirem animais para adopção";
- Instituição do “Passe Saúde" e gratuitidade do transporte animal residentes no Porto Santo.
A frase
Nós temos uma equipa muito jovem e, portanto, temos aqui uma responsabilidade em dar voz aos jovens. E, eu, enquanto única mulher cabeça-de-lista, em dar voz às mulheres e àquele que tem sido o nosso papel ao longo do tempo na sociedade Mónica Freitas, cabeça-de-lista do PAN
Expectativas: voltar a ter representatividade
Mónica Freitas pode não ter sido a primeira escolha do PAN, assim como as propostas que apresentou não divirjam no essencial das apresentadas pelos eu antecessor, pese embora a alegada “incompatibilidade”. Não obstante, parece ter trazido consigo alguma da ‘frescura’ da juventude tão aclamada pelo partido.
Os resultados reflectem-se nas sondagens que a Aximage realizou para o DIÁRIO e para a TSF/Madeira.
Em Junho, abria-se a possibilidade do PAN eleger um deputado, colhendo 1,7% das intenções de voto dos madeirenses. Em Julho, e após o anúncio de Joaquim Sousa como candidato, o PAN descia para 1,3% e ficava fora.
Os resultado mais recentes apontam para uma recuperação, voltando o partido à ‘estaca zero’, recuperando os 1,7%. Embora ainda tenha de lutar pelos votos dos indecisos para conseguir eleger um deputado.
“Tal como referimos relativamente a outras sondagens, ainda existe um grande grupo de indecisos e estamos conscientes das margens de erro. (...) Queremos eleger no próximo domingo e voltar a ter representatividade no Parlamento”, assumiu Mónica Freitas.
Esta é a quarta vez que o PAN concorre a eleições legislativas regionais na Madeira. Na primeira vez a que se submeteu a votos, em 2011, alcançou um mandato, mas nas seguintes falhou a conquista de representação no parlamento regional, que espera agora recuperar.