Países amazónicos perderam um milhão de hectares de superfície de água em 10 anos
Os nove países que têm floresta amazónica no seu território perderam um milhão de hectares de superfície de água na última década, segundo uma investigação científica inédita divulgada hoje pela Plataforma MapBiomas.
O relatório "Água Países Amazónicos" avaliou que Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e a Venezuela estão à beira de uma mudança drástica na sua superfície hídrica.
"A média histórica de superfície de água nesta vasta região no período entre 2000 e 2022 é de 25,4 milhões de hectares. Mas na última década, todos os países amazónicos tiveram redução da superfície de água", informou o relatório da MapBiomas.
"Ao comparar a média da última década com a média histórica do período, foram perdidos um milhão de hectares de superfície de água nos nove países amazónicos", acrescentou o relatório.
O MapBiomas chamou atenção para o facto de ter acontecido uma perda de água na região na década apesar do ganho registado no ano de 2022 de 747 mil hectares de superfície de água (em relação à média histórica).
O Brasil, que representa 72% do total da superfície de água dos países amazónicos, foi o maior responsável pelo ganho registado em 2022: foram 910 mil hectares de superfície de água a mais identificados no ano passado face a média histórica de 17,9 milhões de hectares de superfície de água.
O ganho de superfície de água no Brasil no ano passado também é superior a mais de quatro vezes o total da superfície de água existente no Equador (227 mil hectares de superfície de água).
Em contrapartida, quem mais perdeu superfície de água nesse intervalo foi o Peru.
"De forma geral, no entanto, os nove países amazónicos passaram por uma série de transformações nos seus recursos hídricos nas últimas duas décadas que resultaram numa tendência generalizada de retração na superfície de água", avaliou o documento.
Para Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, o intervalo entre 2013 a 2021 foi identificado como o período com menor superfície de água na série histórica analisada.
"Há três países que apresentaram uma redução da sua superfície de água durante todo o intervalo entre 2000 e 2022, que são Equador, Peru e Bolívia. Os outros seis países apresentaram um período de aumento e outro de redução de superfície de água, em relação a média histórica, que ocorreu entre 2013 e 2021", informou Eva Mollinedo, da Fundação Amigos da Natureza (FAN-Bolivia) e integrante da equipa MapBiomas Água Países Amazónicos.
O relatório indicou que a redução da superfície da água também fica evidente numa tendência sustentada de derretimento dos glaciares que, entre 1985 e 2022.
Todos os países andinos (da América do Sul e que têm a cordilheira dos Andes nos seus territórios) sofreram perda de águas glaciares neste período. A maior extensão foi no Peru, mas a Venezuela, o país com menor cobertura glacial, sofreu a maior perda relativa.
"Esta diminuição pode ter impacto económico nas populações dos Andes tropicais, com efeitos na agricultura, no abastecimento de água potável e na integridade dos ecossistemas", alertou Juliano Schirmbeck dae Geokarten, integrante da equipa MapBiomas Água Países Amazónicos.
Estas perdas devem-se ao "aumento da temperatura causado pela aceleração das mudanças climáticas globais", referiu, sendo esse glaciares "uma espécie de 'termómetro' da Terra, já que a sua expansão ou redução está intimamente relacionada com o clima global".
Carlos Souza Júnior, do Imazon-Brasil e que também integra a equipa MapBiomas Água Países Amazónicos, lembrou que isso agrava problemas de saúde e as dificuldades de acesso aos alimentos, o que prejudica de forma mais intensa as populações com menos recursos económicos.
"A diminuição da superfície da água contribui para a proliferação de incêndios florestais e emissões de gases com efeito de estufa, o que afeta tanto a biodiversidade como as comunidades locais", concluiu.