Grupo de cidadãos manifesta-se em Baião contra trasladação de Eça de Queiroz
Um grupo de cidadãos de Santa Cruz do Douro, em Baião, onde está sepultado Eça de Queiroz, vai manifestar-se no domingo na localidade contra a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional, em Lisboa.
"Vai ser uma manifestação de gratidão para com Eça e, naturalmente, mostrar o nosso desagrado pela forma como este processo foi conduzido", disse hoje à Lusa António Fonseca, daquele movimento, e ex-presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz do Douro.
A manifestação, indicou, está marcada para as 16:00, junto ao acesso à Fundação Eça de Queiroz.
António Fonseca disse acreditar que a maioria da população da localidade está contra a trasladação, referindo que só um "punhado de pessoas" pensará de forma diferente, "por razões políticas".
"A democracia aqui funcionou muito pouco. Há um punhado de pessoas que resolveram sem consultar ninguém, a junta de freguesia e a própria família direta", acentuou, recordando que o "decano dos Eças, que é José Maria Eça de Queiroz, é a principal figura que está a liderar a contestação dos Eças que não estão de acordo com a trasladação".
António Fonseca recordou, por outro lado, que deu entrada na terça-feira no Supremo Tribunal Administrativo uma providência cautelar "para obstaculizar a trasladação", prevista para o dia 27.
"Esperamos que assim aconteça e quem ganhará, em primeiro lugar, será o concelho de Baião [distrito do Porto] e todos aqueles que se reveem nesta posição", asseverou.
Sobre as razões que suportam a oposição à trasladação, começou por lembrar a importância de "respeitar a memória" da fundadora da Fundação Eça de Queiroz, bisneta por afinidade do escritor, que conseguiu, há cerca de 30 anos, que os restos mortais fossem transferidos de Lisboa para o cemitério de Santa Cruz do Douro, onde permanecem.
Além disso, sinalizou que o movimento de cidadãos não se opõe à atribuição de honras de Panteão Nacional a Eça de Queiroz, "que são merecidas", mas defendeu que isso não implica que os restos mortais do escritor tenham de ser trasladados para Lisboa.
"Gostaríamos que fosse dispensado a Eça o tratamento que foi dispensado a Aristides de Sousa Mendes, que teve honras de Panteão Nacional, mas, por pressão do povo, os seus restos mortais estão sepultados na sua terra natal", anotou.
A Fundação Eça de Queiroz anunciou um fim de semana evocativo de Eça de Queiroz na sua sede, em Baião, em antecipação da cerimónia de concessão de Honras de Panteão Nacional ao escritor.
Do programa consta, no domingo, a presença solene do caixão, em câmara ardente.
"Este momento simbólico e solene é a derradeira despedida da quinta de Santa Cruz antes da partida para Lisboa", pode ler-se num comunicado da fundação.