Comité norueguês acusa Rússia de tentar silenciar jornalista prémio Nobel da Paz
O Comité Nobel norueguês acusou hoje a Rússia de tentar silenciar o prémio Nobel da Paz Dmitri Muratov ao incluir o jornalista russo na lista de "agentes estrangeiros".
Muratov, que partilhou o prémio Nobel da Paz de 2021 com a também jornalista filipina Maria Ressa, foi declarado "agente estrangeiro" na sexta-feira, um rótulo que Moscovo utiliza para abafar os críticos do regime.
"É triste que as autoridades russas estejam agora a tentar silenciá-lo", disse a presidente Comité Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen, num comunicado citado pela agência francesa AFP.
Reiss-Anderssen recordou que o Comité Nobel norueguês atribuiu o prémio a Muratov "pelos seus esforços para promover a liberdade de expressão e a liberdade de informação, bem como o jornalismo independente".
"As acusações contra ele são politicamente motivadas", disse a presidente do comité que atribui o prémio Nobel da Paz, com sede em Oslo.
Reiss-Andersen afirmou que o Comité Nobel "continua a apoiar o importante trabalho" realizado por Muratov e pelo seu jornal independente Novaya Gazeta.
Ao justificar a decisão, o Ministério da Justiça russo acusou Muratov de ter usado "plataformas estrangeiras para divulgar opiniões destinadas a formar uma atitude negativa em relação à política externa e interna da Federação Russa".
O estatuto de "agente estrangeiro", que faz lembrar o termo "inimigo do povo" usado na antiga União Soviética durante a era estalinista, impõe restrições administrativas às pessoas ou entidades em causa, incluindo controlos regulares das fontes de financiamento.
Com base nesse estatuto, qualquer publicação dos visados, incluindo nas redes sociais, deve ser rotulada de "agente estrangeiro", segundo a AFP.
O Ministério da Justiça russo também acusou Muratov de divulgar informações de outros "agentes estrangeiros".
As autoridades russas intensificaram a repressão das vozes dissidentes desde o lançamento da ofensiva contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, e os principais opositores encontram-se no exílio ou na prisão.
Muratov, 61 anos, foi visto recentemente na Rússia, onde está a participar na defesa de Oleg Orlov, o chefe da organização Memorial, vencedora do prémio Nobel da Paz de 2022 e entretanto dissolvida pelas autoridades russas.
Orlov está a ser julgado por ter sido acusado de desacreditar o exército russo ao criticar a invasão da Ucrânia e pode ser condenado a uma pena de até cinco anos de prisão.
Desde 2000, seis jornalistas ou colaboradores do Novaya Gazeta foram assassinados, incluindo a jornalista de investigação Anna Politkovskaya, em 2006.
Politkovskaya distinguiu-se na cobertura da guerra da Chechénia (1999-2005) com denúncias de corrupção e violações dos direitos humanos do regime do Presidente Vladimir Putin.
A jornalista foi abatida a tiro, aos 48 anos, no prédio em que vivia em Moscovo no dia do aniversário de Putin, 07 de outubro.
Elena Milachina, outra jornalista do Novaya Gazeta, foi hospitalizada em julho, depois de ter sido espancada na Chechénia.