Arábia Saudita emerge como nova atração em mercado controlado pela Inglaterra
Paradigma começou a transformar-se no início do ano, com a chegada de Cristiano Ronaldo ao Al Nassr
A Liga inglesa de futebol voltou a suplantar o recorde de investimento numa janela de transferências de verão, com 2.78 milhões de euros (ME), sendo perseguida pelo restante top 4 europeu, no qual se intrometeu a Arábia Saudita.
Líder incontestada de mercado há 12 épocas seguidas, a Premier League atualizou nas últimas semanas o máximo de 2.25 ME fixado no período homólogo do ano passado e prosseguiu a ascensão resgatada em 2021/22, na sequência da pandemia de covid-19.
Entre 01 de julho e sexta-feira, os 20 clubes ingleses despenderam um pouco menos do que os 2.935,68 ME das restantes principais Ligas europeias em conjunto: Alemanha (de 486,6 para 747) e França (de 584,1 para 900,6), com um novo recorde, subiram face à última época, opondo-se a Espanha (de 529,9 para 439,9) e Itália (de 867,6 para 848,2).
Esse quarteto costumava a 'secundar' a Inglaterra, mas teve este ano a concorrência da Arábia Saudita, que, com o contributo do soberano Fundo de Investimento Público (PIF), cresceu 19 vezes mais face a 2022/23, quando fechou o top 20 mundial, com 43,78 ME.
Ao investir como nunca durante este verão, o país asiático já quadruplicou o recorde de 189,37 ME fixado em 2018/19 e poderá subir o montante atual de 846,57 ME até 20 de setembro, dia de encerramento do mercado na terceira Liga mais gastadora do defeso.
O paradigma começou a transformar-se no início do ano, com a chegada do avançado e capitão da seleção portuguesa Cristiano Ronaldo ao Al Nassr, clube que é orientado por Luís Castro e passaria a ser detido pelo PIF em junho, tal como o campeão Al-Ittihad, de Nuno Espírito Santo, o Al-Hilal, conduzido por Jorge Jesus, e o recém-promovido Al-Ahli.
Desde então, o apelo monetário tem seduzido 'estrelas' mundiais em pré-reforma, jovens promissores e treinadores a ingressarem na Arábia Saudita, onde a injeção de dinheiro ilimitado é estimulada pela ausência de tetos salariais e de regras de controlo financeiro.
O extremo brasileiro Neymar (ex-Paris Saint-Germain) representou a sétima negociação mais volumosa deste verão, ao custar 90 ME ao Al-Hilal, que ficou no segundo posto da tabela de despesas (353,1 ME), apenas atrás dos ingleses do Chelsea (464,1 ME), com ambos a investirem montantes jamais superados em toda a história das janelas estivais.
Malcom (ex-Zenit, 60 ME), o médio internacional luso Rúben Neves (ex-Wolverhampton, 55), Aleksandar Mitrovic (ex-Fulham, 52,6) e Sergej Milinkovic-Savic (ex-Lazio, 40) são outros jogadores do clube de Jorge Jesus presentes no top 30 de transações, das quais 18 se destinaram à Premier League, três à Ligue 1, duas à Bundesliga e uma à La Liga.
Nessa lista está ainda a chegada do médio português Otávio (ex-FC Porto, 60 ME) ao Al Nassr, cujo gasto de 165,10 ME integrou, entre outros, Sadio Mané (ex-Bayern Munique, 30), Aymeric Laporte (ex-Manchester City, 27,5) e Marcelo Brozovic (ex-Inter Milão, 18).
O Al-Ittihad adquiriu a custo zero Karim Benzema, que venceu a Bola de Ouro em 2022 e é o segundo melhor marcador de sempre do Real Madrid, atrás de 'CR7', e N'Golo Kanté (ex-Chelsea), aos quais uniu Fabinho (ex-Liverpool, 46,7) e o luso Jota (ex-Celtic, 29,1).
Mais expansivo esteve o Al-Ahli, ao unir Roberto Firmino (ex-Liverpool), Gabri Veiga (ex-Celta de Vigo, 40 ME), Riyad Mahrez (ex-Manchester City, 35), Roger Ibañez (ex-Roma, 30), Allan Saint-Maximin (ex-Newcastle, 27,2) e Franck Kessié (ex-FC Barcelona, 12,5).
Os reforços de renome são a face mais visível dos planos de Riade para subir o nível, as receitas e a visibilidade do campeonato local, tornando o desporto num dos alicerces do 'Visão 2030', programa de diversificação económica de um país dependente do petróleo, que planeia organizar o Mundial de futebol e os Jogos Olímpicos já na próxima década.
Os 'bolsos sem fundo' da Arábia Saudita permitem acomodar o impacto do segundo pior saldo mundial entre entradas e saídas, com -819,34 ME - suplantado pelos 1.289,19 ME negativos de Inglaterra -, fruto do 31.º lugar quanto às receitas, estimadas em 27,23 ME.