Convite a embaixadores russo e bielorrusso para cerimónia do Nobel gera protestos
Ao contrário do ano passado, os embaixadores russo e bielorrusso na Suécia foram convidados para a próxima cerimónia do Prémio Nobel em Estocolmo, decisão que está a suscitar desaprovação generalizada, com críticas do primeiro-ministro sueco e de Kiev.
A Fundação Nobel, que organiza a cerimónia de entrega de prémios e um grandioso jantar de gala na capital sueca, anunciou esta quinta-feira que irá convidar para a cerimónia deste ano todos os embaixadores dos países presentes na Suécia, para promover o diálogo em favor da paz.
No ano passado, este organismo decidiu não convidar os dois embaixadores por causa da guerra na Ucrânia, assim como o embaixador iraniano devido à repressão ao movimento de protesto.
"Enquanto milhões de ucranianos continuarem a sofrer com uma guerra que não causaram e o poder russo não for punido pelos seus crimes, apelamos ao comité do Nobel para que apoie os esforços para isolar a Rússia e a Bielorrússia", sublinhou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Oleg Nikolenko, através da rede social Facebook.
Para Nikolenko, este convite despertará "um sentimento crescente de impunidade" por parte do poder russo.
Já a líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovkaïa, apelou à Fundação Nobel para inverter a decisão.
A Bielorrússia, liderada com mão de ferro por Alexander Lukashenko desde 1994, é uma aliada próxima de Moscovo.
"Nenhum convite deve ser feito respeitando os valores de Alfred Nobel. Apelo à Fundação e ao comité do Nobel para que não convidem representantes do regime ilegítimo de Lukashenko para eventos e exijam a libertação imediata" de Ales Bialiatski, Prémio Nobel da Paz 2022, realçou Svetlana Tikhanovkaïa através da rede social X (ex-Twitter).
Na Suécia, o primeiro-ministro Ulf Kristersson manifestou-se "muito surpreendido" com os convites.
"Não o teria feito se tivesse de lidar com convites para uma cerimónia de entrega de prémios e compreendo que isto seja perturbador na Suécia e na Ucrânia", referiu, num comunicado à AFP.
Para a Fundação Nobel, "é claro que o mundo está cada vez mais dividido em esferas e que o diálogo entre pontos de vista divergentes é cada vez mais reduzido", destacou o diretor, Vidar Helgesen, em comunicado.
"Para inverter esta tendência, ampliamos o nosso convite para celebrar e compreender o Prémio Nobel e a importância da ciência livre, da cultura livre e das sociedades livres e pacíficas", acrescentou.
A cerimónia realiza-se todos os anos em Estocolmo em 10 de dezembro, dia em que os vencedores dos prémios de medicina, física, química, literatura e economia recebem os seus prémios das mãos do rei Carlos XVI Gustaf, seguida de um jantar de gala que reúne cerca de 1.200 convidados.
Um evento separado é organizado em Oslo, no mesmo dia, para o vencedor do Prémio Nobel da Paz, para o qual são convidados todos os embaixadores presentes na Noruega, sem exceção.
"É bom que todos os representantes diplomáticos presentes em Oslo possam ouvir a mensagem transmitida pelo laureado e pelo comité do Nobel, em particular os representantes de estados autoritários que reprimem o seu povo ou fazem guerra", frisou à AFP o secretário do comité norueguês do Nobel, Olav Njølstad.
No ano passado, embora convidados, os embaixadores da Rússia e da Bielorrússia evitaram a cerimónia em Oslo em homenagem a Bialiatski, bem como a duas organizações que defendem as liberdades civis na Rússia e na Ucrânia.