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Deitem-lhe um comprimido no copo de leite

Agora percebo aquela caixa de comprimidos sempre dentro do bolso. As últimas do tipo que nos devia representar com nível são do mais baixo a que nos habituou desde que se sentou na cadeira de Belém. São reles, próprias de quem tem níveis de educação pouco polidos e nunca poderiam ser admissíveis a um Presidente da República.

Eu percebo a caixa de comprimidos no bolso, mas não sei porque é que os ajudantes de campo não o obrigam a tomar, ou a empregada lá de casa não lhe põe no iogurte do pequeno-almoço a dose do dia, para ver se o tipo acalmava.

Já vi de quase tudo, desde que abracei a profissão de jornalista em 1990. Já ouvi de tudo e já respondi a tudo, até porque era conhecida por ser mais direta do que uma metralhadora. Imaginei-me no lugar daquelas duas emigrantes que tiveram de se calar por causa de uma tentativa de ser engraçado por parte de quem já não consegue ter graça nenhuma. E tive pena de não estar no lugar delas, porque teria havido um incidente diplomático.

O homem está desesperado. Já ninguém quer tirar fotos com ele, já ninguém quer beijos, já ninguém quer saber que comprimidos toma ou que contas paga no multibanco. E mesmo assim ele não percebe que não é calceteiro e não tem de vir à rua endireitar pedras na calçada, porque já não as faz chorar, principalmente quando armado em incendiário pega fogo ao país e procura desesperadamente os jornalistas.

Passa pela cabeça de alguém que um Presidente da República saia do país e perca a cabeça, quando está a representar uma nação? Não sei se já percebeu que não nos revemos nas suas piadas, mas exímio como é em fingir que não percebe, sabe perfeitamente o que faz para criar factos. Para falarem dele e dos decotes das emigrantes. Entretanto, quando voltar ao país real onde veta diplomas, esconde propostas na gaveta e finge que se preocupa com o povo, pode ser que veja que Portugal e ilhas adjacentes têm mais do que um decote. O país está nu e ele ainda não viu porque, como dizia a minha mãe, não para “com o rabo à porta”. É o Chefe de Estado que mais viajou até agora, era bom sentar-se um bocadinho em Belém (veja se a cadeira aguenta) e olhasse nos olhos de quem está mortinho por vê-lo pelas costas.

E se a empregada lá de casa, por obra do universo, ler este desabafo, peço-lhe que lhe dê qualquer coisa para dormir misturada com o copo de leite da noite para durar 24 horas. Já o imagino tipo Gepetto, o criador do Pinóquio, deitado com uma camisa da noite até aos pés e um gorro com um guizo como o Noddy. E dou por mim a ter saudades do Sr. Silva e da mulher, que não sabia que semilha se comia com casca quando lhe deram uma. Alguém lhe disse que por aqui era assim, que não sabíamos descascar. Só não digo quem “fui”.