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Ano novo ou mais do mesmo

Teve início mais um ano lectivo. Governantes, pais, professores, auxiliares de educação, educadores, alunos e a sociedade em geral mostram preocupação com o estado do ensino.

Essa preocupação não é recente. Já no meu tempo de estudante aconteceram diversas crises académicas (apesar do regime repressivo) que, entre outras reivindicações, pugnavam por uma reforma do ensino. Eu próprio, nos anos 70, fiz parte de duas comissões de estudo da reforma do ensino, sem resultado aparente, e fui quadro da maior Crise Académica de sempre – “17 de Abril de 1974”.

Fui aluno de cinco universidades e professor de três. Sou formador. Gosto de dar aulas. Reconheço as dificuldades que têm os professores. Percebo as posições de luta que têm adoptado ultimamente. Também reconheço que, a qualquer governo, não é fácil fazer uma alteração radical dos vários níveis do sistema de ensino.

No entanto, estamos a deixar a situação prolongar-se no tempo, o que, inevitavelmente, trará más consequências para todos nós. Para a sociedade em geral.

Além das queixas acerca da não contagem de tempo de trabalho, das remunerações, os professores deviam pôr alguma ênfase na luta contra a burocracia que infesta o ensino.

Horas e horas perdidas em reuniões que muitas vezes não levam a nada, no preenchimento de inquéritos e documentos vários, cujo destino deve ser uma qualquer gaveta no Ministério da Educação (se é que lá chegam...). Tempos que não são úteis à sua missão de educar. Digo educar. Evito dizer “ensinar”. Porque o mais importante não é debitar matéria, não raras vezes, “requentada”, nem efectuar avaliações que deixam muito a desejar. O essencial seria ensinar a aprender. Adaptar os “curricula” e métodos à realidade em contínua mutação em que vivemos.

Em vez disso, a realidade do nosso sistema educativo poderá resumir-se aos pontos que enuncio abaixo:

1. Desigualdade de acesso à educação: a falta de equidade no sistema de ensino leva a disparidades no acesso e na qualidade da educação entre diferentes regiões e grupos socioeconómicos, resultando em desigualdades no desenvolvimento individual e nas oportunidades futuras.

2. Falta de foco nas habilidades essenciais para a vida: o sistema, muitas vezes, valoriza mais a memorização e a reprodução de informações do que o desenvolvimento de habilidades práticas, como pensamento crítico, resolução de problemas e comunicação eficaz.

3. Padronização do “curriculum”: muitos sistemas de ensino seguem um “curriculum” padronizado para todos os alunos, o que não leva em consideração as necessidades individuais e os interesses dos estudantes.

4. Aulas passivas: as aulas tradicionais muitas vezes baseiam-se em palestras e atividades passivas, onde os alunos são meros espectadores, o que limita o seu engajamento e participação activa no processo de aprendizagem.

5. Pouca valorização da criatividade: o sistema de ensino tende a privilegiar o conhecimento académico em detrimento do raciocínio, da criatividade e das habilidades artísticas. Isso pode desencorajar talentos únicos e contribuir para uma formação menos holística dos estudantes.

6. Avaliação com base em testes padronizados: a ênfase excessiva nos resultados de provas padronizadas pode incentivar um estudo com base no psitacismo (acção de quem decora alguma coisa sem pensar sobre o assunto que está sendo memorizado), ao invés de uma compreensão profunda dos conteúdos, além de gerar alta pressão sobre os alunos.

7. Desactualização dos materiais didáticos: o rápido avanço tecnológico torna muitos materiais didáticos obsoletos rapidamente, dificultando a adaptabilidade e relevância do “curriculum” às mudanças sociais e culturais.

8. Infraestruturas insuficientes: muitas escolas enfrentam problemas de infraestruturas, como salas superlotadas, falta de recursos tecnológicos e pouca manutenção das instalações, o que prejudica o ambiente de aprendizagem.

9. Falta de formação adequada dos professores: a capacitação contínua dos docentes é fundamental para garantir um ensino de qualidade, mas muitos profissionais não recebem formação adequada ou atualizada.

10. Pouca ênfase em habilidades socioemocionais: o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como empatia, colaboração e autogestão, são frequentemente negligenciadas no “curriculum”, deixando os estudantes despreparados para lidar com situações do mundo real.

Enquanto continuarmos a insistir no mesmo esquema, os resultados não podem mudar.