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Os professores também adoecem...

O professor João (nome fictício, mas factos reais) está com cancro. Conheço-o desde 1993, quando cheguei à Madeira pela primeira vez. Fazia, então, a sua profissionalização. Daí para cá, encontramo-nos algumas vezes. Quase sempre com o seu sorriso discreto, mas penetrante.

Esta semana, contactou o seu sindicato, o SPM, para o ajudar a conhecer o que a lei contempla para casos como o seu.

Sei que sempre foi assíduo e fazia disso ponto de honra. Agora, enquanto estiver a lutar contra a doença, vai ter de violar esse princípio. Ao longo deste ano letivo, e quem sabe de quantos mais, passará a fazer parte das estatísticas dos absentistas. Quando surgir a próxima notícia sobre as ausências dos professores, ele será um deles. Infelizmente, estará acompanhado por muitos outros.

É impressionante como os órgãos de comunicação social gostam de fazer notícias sobre as faltas dos professores e educadores. Julgo que nenhuma outra profissão é tão escalpelizada neste aspeto como a classe docente. Dir-me-ão que será por se tratar de uma profissão onde os efeitos sociais dessas faltas são bem sentidos por muitas famílias. O problema é que muitas dessas notícias estão prenhes de subjetivismo e de críticas mais ou menos explícitas, como se os professores fossem uns mandriões que não querem trabalhar.

No entanto, todas essas notícias seriam poucas, se a sua perspetiva fosse séria e objetiva e procurasse levar à tomada de consciência da realidade. Nesse caso, deveríamos analisá-las e refletir sobre o que leva a que 5% dos docentes, em média (dados de uma notícia do dia 23 de agosto deste jornal), adoeça ao longo do ano letivo. Seria, por exemplo, lógico concluir que uma classe profissional cuja média de idades já ultrapassa os 50 anos apresentará, inevitavelmente, problemas de saúde, uma vez que é óbvio que a idade potencia o aparecimento de doenças e problemas crónicos.

Confesso que esse valor (5 %) me parece diminuto, face aos problemas de que vou tomando conhecimento, no contacto direto com os meus colegas. Na verdade, considero que, se todos os que não se sentem bem recorressem a apoio médico especializado e fizessem todos os exames médicos de que precisam, os números dos atestados e baixas médicas dispararia. O problema é que a vida, como sabemos, não está fácil e todos os cêntimos contam. Por isso, os docentes, como outros profissionais, vão aguentando até onde podem, porque nem todos podem suportar os cortes nos salários inerentes à doença.

O professor João vai estar doente muito tempo. A sua ausência será custosa para si, em primeiro lugar, mas todo o sistema educativo a sentirá, dado que na lista de concurso do seu grupo disciplinar já não há ninguém para o substituir.