Eu vi o tempo passar e pouca coisa mudar
Quem diria que, quase cinquenta anos pós 25 de Abril, a Democracia estaria adulterada. Ninguém, com certeza, esperaria que a "máquina "da administração pública estivesse pejada de "boys"e"girls" incompetentes a que os partidos do poder garantiram empregos bem remunerados a troco de apoio político/partidário.
Em ano de eleições, época de benesses, a táctica é sempre a mesma. Apoios para aqui e para ali, mais subsídios a estes e àqueles e a receita já antiga continua a funcionar. Talvez seja, também, altura propícia para que os putativos candidatos a nossos futuros governantes pensem mudar muita da sua gente de cadeira, ou as cadeiras de lugar, pois onde estão só emperram os respectivos serviços. Não podemos continuar prisioneiros da acção individual de meia dúzia, cujos discursos oficiais ou oficiosos foram semeando e cultivando o medo. O medo é a melhor nuvem para esconder incompetências e ilegalidades, sabendo nós que, na actualidade, o dinheiro, a ascensão social, as negociatas políticas, o tráfico de influências, a corrupção generalizada e a falta de escrúpulos são o pão nosso de cada dia. Há personagens que são autênticas caricaturas, cúmplices de tudo o que acabei de enumerar.
Estes políticos estão longe, muito longe, daqueles que à direita e à esquerda protagonizaram a Revolução dos Cravos. Para quem pugna por uma sociedade melhor não faltam exemplos de ameaças, mais ou menos veladas. O sistema vigente aniquila os que identificam alegadas irregularidades e quem ousa apontar o dedo às "enfermidades"da administração pública é acusado de má fé, "Velho do Restelo" e até perseguido sob as mais diversas formas. Tudo em nome de uma partidarite cega, que divide e afasta para reinar.
Mas o mundo não pára. Paralelamente e a uma velocidade vertiginosa segue a evolução científica e tecnológica, a globalização do mundo e a explosão de potencialidades cibernéticas remetem-nos para novos cenários criminais. Recentemente o SESARAM foi alvo de um ataque cirúrgico no seu sistema informático, cujas consequências desastrosas são fáceis de imaginar. Não creio que, até à presente data, se tenha indiciado qualquer culpado, mas há uma legião de lesados. Os primeiros afectados, com consequências imprevisíveis são os doentes, privados de consultas, exames, cirurgias etc., por tempo indeterminado, para além de todos os outros utentes do SRS.
Pela premência e pertinência do problema que envolve toda a saúde pública, julgo eu, esta deveria ser a 1.ª causa a defender pelos partidos que se apresentam a eleições. Confesso que não li os respectivos manifestos eleitorais, baseio-me no que me é dado ver, ouvir e ler pelos canais de informação que disponho. Se estiver a ser incorrecta, peço desculpa.
É importante para a nossa saúde física e mental que se usufrua de actividades lúdicas, de desporto ou lazer, nos locais apropriados para o efeito, ao ar livre ou noutro contexto. É importante que tenhamos esses locais acessíveis para todos. Mas, sem saúde, ninguém quer saber de diversão, seja ela qual for.
Acho que é mais do que tempo de se olhar para o Porto Santo, com seriedade, no que à Saúde diz respeito.
Quase todos os dias o avião da FAP efectua voos de transferência de doentes do Centro de Saúde para a Madeira, para receberem cuidados médicos aqui inexistentes; quase todos os dias há doentes que se deslocam ao Funchal para efeitos de consultas ou realização de exames de diagnóstico; há um défice elevado de doenças oncológicas que deveriam merecer um estudo profundo; há muitos doentes oncológicos a deslocar-se para fazer tratamentos específicos com os constrangimentos e gastos que isso implica ao SRS.
Não haverá nenhuma viabilidade de deslocar os médicos (oncologia) em vez dos doentes?
Não haverá possibilidade de instalar no Porto Santo, mesmo a título provisório, uma forma de realizar os exames de diagnóstico que não envolvam grande complexidade e logística?
O Porto Santo é um dos concelhos da Madeira. Mas tem a particularidade de ser uma ilha. Decididamente não é a mesma coisa ir de Machico ou Calheta ao Funchal e do Porto Santo à Madeira com a mesma facilidade.
Penso que quando há vontade não há impossíveis.
Até que fique concluído e operacionais todas as valências do novo Centro Hospitalar, quantos de nós teremos de viajar inter ilhas na FAP, por motivos de doença??? Muitos vão e já não regressam vivos. Outro aspecto que devia ser revisto.
Infelizmente, é o que te(re)mos.
Não basta apenas olhar. É preciso saber olhar.
Madalena Castro