Futebol, desporto ou alienação?
Ainda era jovem e já ouvia dizer que o futebol era a alienação do povo. Numa idade ligeiramente mais adulta – e a fazer fé no que ouvia - cheguei mesmo a pensar que se aquele regime político caísse, o futebol se transformaria.
Aquelas lutas extremadas entre adeptos de clubes opostos, terminariam e dariam lugar a um ambiente mais salutar, onde as rivalidades clubísticas continuariam, mas num ambiente, digamos, de bom senso, onde cada um percebesse que um jogo de futebol é um jogo (também) de sorte e azar e arbitrado por juízes que nem sempre estão nos seus melhores dias.
Pura ilusão. O tempo da “velha senhora” caiu, mas com a entrada da “nova senhora “as coisas ainda mais se agravaram. Aliás, a “nova senhora” só está disponível para aparecer nos sucessos desportivos, nas inaugurações de coisas boas – como aconteceu agora em Braga - em botar elogios a nível individual ou coletivo, com medalhas e condecorações, mas quando surgem problemas e escândalos que envergonham o País a nível nacional e internacional, dos representantes da “nova senhora” nem uma palavra, nem uma atitude, como lhes competia.
Aliás, às vezes surgem, mas para dizer que os homens do futebol que os resolvam.
Daí a corrupção tornar-se ilimitada e o comportamento de alguns atletas, treinadores e dirigentes atingir, nalguns casos, o auge da indisciplina, da falta de educação e do pudor, para vergonha nacional e alvo de chacota internacional.
E não venham com a “história” de que, naquele tempo, não se sabia o que se passava porque não havia informação, porque coisas tão graves e tão escandalosas como se tem verificado nos últimos anos, a acontecerem, até podia haver “perdões” mas os envolvidos “limpavam os pés” das suas atividades, quer fossem dirigentes de clubes, como de qualquer organismo ligado ao futebol, incluindo ao que ao Estado dizia respeito.
Agora, já nem é preciso perder os jogos, basta não ganhar para que os árbitros sejam denegridos, ameaçados e alvos de insultos que não só os atingem como a sua própria família, o que deveriam ser julgados pela disciplina desportiva e pela justiça geral do País.
A época passada foi um desastre e esta, há pouco tempo iniciada, é o que se tem visto.
Daí, quem não se sinta com competência, postura e educação, para gerir os destinos do futebol, quer a nível de clubes, como de Instituições, deve demitir-se ou ser demitido.
Até na comunicação social, onde a liberdade de expressão é sagrada, tem de ser defendida, mas não abusada. As “peixeiradas” protagonizadas por indivíduos que não se sabe bem se são colaboradores ou “mercenários”, dando a ideia que estão ali pagos pelos seus clubes para dizerem só o que aos mesmos lhes convém, não podem integrar programas desportivos que deveriam ser exemplo para os mais novos.
Eles sabem, todos nós sabemos, que nunca houve um campeão de futebol em Portugal, que não tivesse contado com erros de arbitragem, direta ou indiretamente, ao longo do campeonato. Se esses erros têm de ser denunciados e combatidos, achamos que sim, mas não só quando prejudicam os nossos clubes. Haja decência e integridade moral.
- Bom, mas já foi ótimo prenúncio as multas e suspensões aplicadas neste princípio de época. Também é de enaltecer um treinador reconhecer que a sua equipa foi beneficiada por erros do VAR e sabermos que os respetivos árbitros foram punidos. Que o bom senso prossiga para bem do futebol, credibilidade dos clubes, atletas, técnicos, dirigentes e instituições.
Para puxar a brasa à sua sardinha, e opinar tolices, bastam os fanáticos que andam cá fora.
Juvenal Pereira