Porque não voto PSD/CDS
As eleições do próximo dia 24 arriscam-se a voltar a ser aquilo que muitas foram: um simulacro de democracia, mero plebiscito a quem governa, onde os partidos da oposição comparecem para legitimar o poder, condenados a perder e a procurarem o melhor resultado possível. Não tivessem os partidos da oposição subvertido o trabalho feito até 2019 e as condições para que voltássemos a impedir, inequivocamente, uma maioria absoluta do PSD/CDS e a disputar uma vitória seriam idênticas. O risco que a Madeira corre é real, evidente aos olhos de muitos madeirenses: é o de uma maioria absoluta do PSD/CDS confirmar um retrocesso político e social não de quatro, mas de muitos mais anos - porque há uma nova geração que acreditou numa mudança possível e que se arrisca agora a converter-se, também ela, ao fatalismo de que aparentemente não existe alternativa. Nada mais falso: os motivos para não votar PSD/CDS não são nem distintos, nem menos do que os de há quatro anos; são ainda mais e estão piores.
Não voto PSD/CDS porque me recuso a aceitar que em democracia vale tudo - e que quem durante 40 anos se apresentou como alternativa ao poder absoluto do PSD tenha abdicado do seu histórico e dos seus princípios - se alguma vez os tiveram - em troca de lugares menores, vulgares notas de rodapé da história democrática regional. Por melhores roupagens que apresentem, Rui Barreto e José Manuel Rodrigues não ficarão na história política madeirense por terem sido um Secretário da Economia banal e um Presidente da Assembleia mal-aceite; ficarão por terem traído a maioria social que não deu, tirou a maioria ao PSD para governar.
Não voto PSD/CDS porque, por mais comunicados diários que o SESARAM emita, a situação na Saúde não é melhor do que no passado, é muito pior. Não há propaganda que safe os responsáveis políticos e dirigentes da Saúde do vexame de terem, há mais de um mês, um sistema informático obsoleto e disfuncional, que não há consultadoria e computadores novos que disfarcem. Todos estamos sujeitos aos crimes informáticos, mas o que ficará deste caso é a inabilidade da reacção inicial, a propaganda sistemática que se seguiu e a incapacidade para resolver um problema de duração sem paralelo. As listas de espera para consultas, cirurgias e exames são o que os madeirenses conhecem: terreno fértil para o crescimento exponencial do privado. É a factura que temos a pagar ao fim de 50 anos de governação.
Não voto PSD/CDS porque o problema da falta de Habitação não é melhor na Madeira, é pior do que no resto do país. Os preços de arrendamento e aquisição na Região só comparam com os de Lisboa e Porto, com uma diferença: é que aí os salários são maioritariamente mais altos. E os custos da dita habitação a custos controlados só comparam com as ruas periféricas das maiores avenidas da capital.
Não voto PSD/CDS porque a gratuitidade na Educação não é uma realidade por opção, como não era a atribuição de bolsas de estudo no Ensino Superior no Funchal até a Confiança chegar à governação.
Não voto PSD/CDS porque o que têm para apresentar aos madeirenses é uma economia assente em precariedade e baixos salários, anunciados como maravilhas que se contrapõem ao povo que não quer trabalhar, quando quase sempre o que resta é emigrar.
Não voto PSD/CDS porque acredito que sim, era possível terem feito muito mais e muito melhor. Miguel Albuquerque tem um mérito: quantos mais anos passar no poder, melhor parecerão os de governação de Alberto João. O que os madeirenses vivem hoje é uma espécie de degeneração geracional do poder, onde os que se sucedem são progressivamente piores: nas ideias para a Madeira que querem, na capacidade de governar, nos tiques ditatoriais. Se alguém duvida, basta olhar para o Funchal: Calado é pior que Albuquerque, que é pior que Jardim.
A Madeira não está destinada a ser governada pelos mesmos indefinidamente - mas também se engana quem, na oposição, acha que terá o direito divino e dinástico a governar, porque o tempo corre a seu favor. Tal só acontecerá quando formos capazes de mostrar que somos muito melhores do que quem governa. Não sei que escolha fará a maioria dos madeirenses, mas receio que muitos façam a mesma de sempre e outros voltem atrás. Compreendo algum desencanto - mas, no final do dia, se todos pensarem bem, encontrarão motivos mais do que suficientes para não votarem PSD/CDS. No meu caso, tenho mais um: é que, ao fim de 50 anos de poder único, há um partido que nunca deixou de acreditar num outro caminho possível. Um partido construído por gente que nunca falhou à democracia e à Madeira. Gente que, por mais difícil que o combate seja, nunca virou a cara à luta por uma Madeira melhor e esteve sempre presente. Esse partido é o PS: um só - o meu e o de muitos socialistas. Vamos a isto!