Eleições: o reforço da democracia
É urgente a participação de todos na vida da região. Quanto menos as pessoas participam, menos o consenso é legítimo
Com eleições em breve, seremos todos chamados a escolher que modelo político e de desenvolvimento queremos para a Madeira. Vivemos em democracia e, por isso mesmo, é permitido a todos dizerem o que pensam. Será sempre bom relembrar que nem todos aqueles que dizem o que pensam são democráticos.
O modelo democrático, com todas as suas fragilidades, continua a ser forma de governo que permite a liberdade de ser e de se fazer representar. A sua origem é grega, melhor, nasceu na Cidade-Estado de Atenas, no séc. VI a.C. O modelo democrático de governação, ainda que num registo empobrecido no que diz respeito à participação de todos na vida pública, estava alicerçado na conceção educativa de paideia.
A paideia tinha por objetivo fundamental a formação humana e livre nutrida de experiências sociais, culturais e antropológicas. Esta visão distinguia-se do modelo da Cidade-Estado rival: Esparta. Aqui vivia-se numa lógica totalitária de se ser e estar.
O modelo espartano educava para o conformismo. A criança, aos sete anos, era retirada da família e até aos dezasseis anos recebia uma educação militarizada. Era a guerra como fim último da educação. Mas até os guerreiros mais hábeis de Esparta serviram de entretenimento aos romanos, em 451-404 a.C.
Estas visões sociais marcaram até hoje diferentes povos e culturas. Não tenho dúvidas de que quem se expressa em nome da liberdade e da igualdade compreende bem os perigos das prisões a céu aberto. Tivemos a experiência e temos memória social da ditadura. Também não tenho dúvidas de que quem persegue os seus adversários (em alguns casos pessoas que militam na sua própria família política) e quem os desconsidera na sua integridade pessoal é porque não tem argumentos suficientemente sólidos para sequer se governar a si mesmo.
Em debates, em panfletos, em entrevistas e, mais recentemente, nas intermináveis adições a grupos de WhatsApp (sou só eu que considero um abuso ser “adicionada” a grupos sem o meu aval?), o discurso político não tem sido capaz de alimentar o sentimento de responsabilidade social. Vale-nos o sentido de cidadania dos eleitores que percebem quanto vale uma casaca virada.
Recentemente, demo-nos conta de um caso paradigmático nesta campanha às legislativas regionais da Madeira: um líder partidário desafia outro candidato para um acerto de contas na rua. É caso para dizer: “que o poder não caia na rua”. “Fascismo nunca mais”.
Vivemos numa altura em que o modelo democrático está à prova. Vale tudo, em especial nos dependentes das redes sociais, esse lugar de possibilidade de se ter um diário pessoal. Mas até daí decorrem responsabilidades civis e criminais.
É urgente a participação de todos na vida da região. Quanto menos as pessoas participam, menos o consenso é legítimo. Dia 24 de setembro vote. A sua participação tem importância no reforço da democracia.