Turismo carece de equilíbrio
Infelizmente, sou madeirense não residente (agora existe essa distinção) e estou de férias por aqui, como faço questão de estar todos estes anos que passam por nós. Durante todas estas visitas, tenho observado as mudanças que ocorrem na dinâmica do turismo e na vida dos madeirenses. Este ano, estou preocupado, realmente preocupado com este turismo desmedido que ultrapassa os limites do sustentável.
Esse tipo de turismo retira o prazer da experiência na Madeira, pelo menos na minha perspetiva. Não sei se a ideia de trânsito congestionado, multidões, confusão e preços incompreensivelmente altos faz parte do conceito de umas boas férias. Para os turistas estrangeiros, talvez seja, desde que eles obtenham a foto perfeita de ilusão.
Trânsito no porto Moniz, Seixal, Ribeiro Frio, Pico do Areeiro e já perdi a vontade de ir para os lados do Rabaçal. As multidões de pessoas formando filas para tirar uma foto com uma cascata são surrealistas, lembrando aqueles lugares onde ninguém deseja voltar, pois o turismo impera e a vida local é esquecida.Quanto aos preços, pagar 5,20 para uma ida ao Lido é desproporcional para a maioria dos rendimentos portugueses, e é ainda pior para uma família.
Com as eleições à porta, este é o tema central, que afeta todos os outros aspectos da vida dos madeirenses: habitação, habitabilidade, ecologia etc . É um tema que exige reflexão profunda: que tipo de turismo queremos? Queremos uma Albufeira? Uma Lisboa? Ou queremos a Madeira, um lugar que seja benéfico tanto para os madeirenses quanto para os visitantes?
O turismo que tenho visto pode gerar benefícios económicos para alguns, é inegável, mas até que ponto este é o caminho certo a seguir? Até que ponto devemos nos curvar diante dos turistas e sua falta de senso e responsabilidade? É como a história do Rei Midas, que desejava tanto ouro que perdeu a noção de suas necessidades básicas.
Tudo isto está preso num ciclo que precisa ser analisado atentamente, senão a Madeira tornar-se-á somente num metal brilhante apenas nas redes sociais, e não para os madeirenses. Há também a questão das viagens para residentes e não residentes, mas acredito que talvez ainda não estejamos prontos para essa conversa.
Raquel Valente