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ONU culpa Rússia por nova crise de preços dos alimentos

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 O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, culpou hoje o abandono da Rússia do acordo de cereais do Mar Negro pelo contínuo aumento de preço dos alimentos, que tem prejudicado sobretudo o Corno de África.

"A retirada da Federação Russa da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, em julho, e os ataques às instalações de cereais em Odessa [cidade da Ucrânia] e noutros locais, forçaram novamente os preços a disparar em muitos países em desenvolvimento", afirmou na abertura da 54ª sessão do Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Referindo especificamente as altas taxas de desnutrição na Somália causadas pela seca, Volker Türk sublinhou que o aumento de preços deixa o direito à alimentação "fora do alcance de muitas pessoas".

A Rússia saiu há dois meses do acordo de cereais mediado pela ONU, que visava aliviar uma crise alimentar global, argumentando que não estava a ser cumprida a parte que visava a exportação de cereais e fertilizantes da Rússia.

A Ucrânia acusou a Rússia de atacar intencionalmente terminais de cereais e infraestruturas no porto de Odessa, no Mar Negro, e noutros locais.

No mesmo discurso, Türk evocou crises de direitos humanos em todo o mundo e referiu-se a uma série de incidentes, considerando a queima do Corão na Suécia "repugnante" e pedindo "fortes ações corretivas" à China como resposta a um relatório publicado há um ano pelo seu antecessor que destacava possíveis crimes contra a humanidade cometidos contra muçulmanos em Xinjiang.

O alto-comissário também focou a sua intervenção nas alterações climáticas e nos seus efeitos devastadores, apelando à luta contra a impunidade "daqueles que roubam" o planeta.

"Precisamos de ações urgentes agora. E sabemos o que fazer. A verdadeira questão é: o que nos impede?", questionou, na sequência do fracasso no G20 do fim de semana passado de um apelo comum para que o uso de combustíveis fósseis seja abandonado.

Türk apelou também a um abandono "rápido" dos combustíveis fósseis e saudou os esforços que têm sido feitos em todo o mundo para integrar o "ecocídio" no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.

No entanto, admitiu "estar chocado" com "a indiferença demonstrada perante as mais de 2.300 pessoas que foram declaradas mortas ou desaparecidas no Mediterrâneo este ano", sublinhando que um número muito maior de migrantes e refugiados morre noutros pontos do mundo.

O responsável apontou as situações "ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, bem como a Arábia Saudita, onde os seus serviços "pedem esclarecimentos urgentes sobre as alegações de assassinatos e maus-tratos" de migrantes, e denunciou "as mentiras e a desinformação" que, graças às novas tecnologias, "são produzidas em massa para semear o caos e a confusão, negar a realidade e garantir que nenhuma medida - que possa pôr em perigo os interesses das elites - seja tomada".

Türk referiu ainda a crise de uma década na região do Sahel, que se estende por todo o Norte de África, em países como o Mali, o Burkina Faso e o Níger, e apontou a falta de investimento em serviços como a educação e os cuidados de saúde como fatores que alimentam os extremismos.