Crónicas

E se a resposta estiver na pergunta?

De que serve a busca do ‘Amor’ quando, para alguns, ‘Amor’ significa sair de si, abdicar da sua dignidade, calar-se, vender-se, perder-se? Quando, para alguns, significa cumprir e caber em regras impostas que hostilizam e constrangem a si e ao próximo, comprometendo a sanidade mental e espiritual de todos? Amor sem intenção é morte, é podridão.

Ando há muito intrigada acerca do que move os jovens de hoje (os adultos também, já agora). Se por um lado podem parecer anestesiados, por outro, basta dar um salto a uma qualquer festa da noite, para perceber o quão ávidos estão. Muito ávidos. Mas de quê? Quando pergunto a algum: “qual é a tua intenção nesta festa?” A resposta é invariavelmente: “divertir-me.” Certo. Parece-me ótimo. Só que “divertir” é um objetivo, não é uma intenção. Volto a fazer a pergunta e a resposta até pode variar: “conhecer pessoas novas.” Continua a estar tudo bem. E continua a ser um objetivo. Fiz a mesma pergunta a muitos jovens que viajaram para a Jornada Mundial da Juventude. Em muitos casos, as respostas coincidiram com as dos ‘jovens da noite’. Muitos objetivos, poucas ou nenhumas intenções.

Na verdade, para chegar a uma das intenções possíveis com a ‘ida à festa’, podemos colocar a questão: “o que sentes quando te divertes?”. E aí sim, esse mergulho para dentro, conduz à intenção, àquilo que realmente nos move. Coloca-nos do lado da causa e retira-nos da arena do efeito. Liberta-nos do piloto automático e oferece-nos inúmeras possibilidades.

Uma vida intencional é uma vida consciente. É um assumir de responsabilidade pessoal pelas nossas escolhas diárias, que assenta nos nossos valores e no que queremos ver no mundo. É terra firme para vivermos seguros de cada passo que damos, mesmo que não conheçamos o caminho, menos ainda, o destino.

Gerar uma vida com impacto

Uma vida intencional é uma vida com impacto. Para isso, havemos de saber alinhar os nossos valores com as nossas ações. E para quem quer experienciar uma vida plena, a transbordar, este é um dos paradoxos mais desafiantes. Se, de facto, queremos mesmo criar uma vida plena - a sério - precisamos de saber, primeiro: que amor é o que somos, depois, aceitar, incluir, integrar e transcender exatamente aquilo que queremos bem longe: o vazio emocional, a experiência da escassez, as feridas emocionais. É precisamente quem aprende e pratica a escuta e o olhar para dentro, quem se reconhece e aceita enquanto ser de amor, atravessado pelo vazio, enquanto ser confinado por limites que espartilham, enquanto ser ferido, é precisamente esse o ser mais inteiro, mais ilimitado e que, garantidamente, vai gerar mais impacto. No processo descobriremos que estamos feridos e que não somos a ferida. No processo ganharemos consciência de que somos amor e que é ele que nos guia até ao amor ao próximo. Por cultura e/ ou educação adquirimos a noção de que, para sermos quem devemos ser, precisamos de nos conter, rebaixar, ignorar as nossas intenções, os próprios desejos e necessidades, esconder a nossa vulnerabilidade. Só que não. E depois o que mais vemos por aí é a fuga à dor. Seja na noite, seja de dia. Seja com álcool, seja com cânticos. Mas eu tenho muita esperança nos jovens. Na força da juventude. Na energia contagiante e das infinitas possibilidades que só essa época da vida tão bem gera, acolhe e nutre. No reafirmar de princípios e virtudes que movem montanhas, que às vezes nos põe de mal com alguns e de bem com a nossa consciência.

Que a alegria das festas e dos cânticos, perdure e ecoe no tempo, se manifeste em atos e obras de amor incondicional a si próprio e aos demais. Pelo bem comum.

Dito isto, parece-me que a resposta para uma vida intencional está na qualidade das perguntas que ousamos colocar-nos (mais um paradoxo).

O Papa Francisco dizia há dias, em Lisboa:

“Nunca te canses de perguntar. Fazer perguntas é bom (...) quem pergunta permanece inquieto e a inquietação é o melhor remédio contra a habituação, aquela normalidade rasteira que anestesia a alma.”

Termino com duas perguntas essenciais (para os jovens e graúdos):

- Viveremos mesmo uma vida intencional?

- Viveremos mesmo desde um lugar de amor incondicional?

Como dizia, também o Papa, quem ama não fica de braços cruzados (...) apressa o passo.