Crónicas

Impactante… para todos!

Uma das milhares de peregrinas que visitaram Portugal para as Jornadas Mundiais da Juventude, dizia quando lhe perguntaram sobre o significado e como estava a viver esta semana, que para ela esta era uma “suave e inesquecível viagem pelo paraíso!”. Referências bíblicas à parte, quem teve oportunidade de acompanhar ou de se aproximar perto de alguma das muitas iniciativas que constavam do programa, pôde constatar que a energia a emoção e a ansiedade superaram todas as expectativas. Para grande desilusão de alguns arautos da desgraça e para outros que só estão bem a criticar tudo e todos, esta semana tem sido pautada por uma excelente organização e por um imenso sucesso a todos os níveis. Mesmo grande parte dos proprietários de restaurantes com quem falei e que sentiram algumas quebras na faturação, dado este não ser o seu cliente tipo e naturalmente estas Jornadas terem afastado a vinda de outro tipo de turistas, se mostraram felizes e emocionados por terem a oportunidade de sentir toda esta alegria a calcorrear as ruas de Lisboa e de Fátima.

Bem cedo se levantaram todo o tipo de vozes contra este acontecimento e entre as muitas críticas e acusações, ficou sempre no ar a sensação de que para alguns, estas Jornadas seriam só uma forma encapotada de muitos jovens se deslocarem ao nosso país para se divertirem, beberem uns copos e criar todo o tipo de confusão. Ora não foi nada disto a que assistimos. Primeiro, ruas impecavelmente limpas, os peregrinos mostraram uma preocupação ambiental sempre premente em limpar o que sujavam, depois uma vontade imensa em confraternizar com gente de outros países, uma curiosidade pelas culturas dos outros que gerou uma animada troca de todo o tipo de objectos como o selar de uma nova amizade. Desde bandeiras, pin´s, autocolantes tudo valeu. Para além disso sentiu-se uma grande espiritualidade nos mais novos, sempre de sorriso no rosto, mesmo com todo o calor que se tem feito sentir, notou-se sempre uma enorme disponibilidade para estarem aqui de corpo e alma e uma busca incessante e autêntica pelos caminhos da fé, na vontade de estar ver e ouvir o Papa.

Francisco fez questão aliás de manter sempre presente no seu discurso e nos seus encontros com os outros, nestas JMJ, que a fé e que a nossa construção pessoal se faz com todos e é para todos. Por isso a necessidade de um diálogo ecuménico e inter-religioso que nos aproxime uns dos outros de uma forma muito aberta, desenhada através da compreensão e do respeito. Foi importante, porque é dos temas mais atuais no seio da sociedade em relação à igreja católica, o diálogo com algumas das vítimas dos abusos sexuais, o reconhecimento e o pedido de desculpas. Era indispensável aliás que esse tema fosse trazido à colação uma vez que ele sempre pairou como uma nuvem escura nos meses que antecederam esta organização. Para quem achava que a religião estava a definhar e se encontrava numa encruzilhada sem saída, com pouca adesão da juventude, eis que os mesmos dão uma demonstração cabal de que a sua fé e a sua ligação à igreja está bem viva e sairá certamente mais fortalecida e florescida no fim destes encontros.

Percebo quem se tenha insurgido contra alguns gastos potencialmente excessivos ou adjudicações diretas à última da hora. Haverá tempo para discutir tudo isso à boa maneira portuguesa. A verdade é que se nos abstraímos de uma lógica estritamente mercantilista e em que efetivamente alguns nos seus negócios perderam faturação durante esta semana, o que podemos constatar é que a mesma tem sido um absoluto sucesso e uma autêntica campanha de charme e de promoção do nosso país. Talvez das mais baratas, equacionando os custos vs os proveitos presentes e futuros de que há memória, até pela revitalização de uma zona da cidade de Lisboa que estava ao abandono. Portugal deu-se a conhecer ao mundo na arte de bem receber, de uma abertura genuína para o multiculturalismo e numa vontade imensa de tratar todos bem e esse é o cartão que a grande maioria levará para os seus países, para as suas comunidades. Essa é a mensagem que partilharão junto das suas famílias e amigos. O amanhã começa a construir-se hoje e nós acabamos de dar um excelente passo na direção de um futuro melhor, ao recebermos um movimento que tem tanto de religioso como de cultural. Impactante, emocionante e…para todos! Tem sido amor e vida aquilo que as Jornadas nos têm transmitido. E que bonitas estão a ser!