A incontornável mudança
Muito do que se tem passado no panorama político nos últimos anos tem revelado ao país um governo enxameado por gente verdadeiramente sem escrúpulos e que precisa das posições que ocupa para as suas negociatas, para os seus jogos de influência e para o seu carreirismo, sempre financiado pelo erário público, que é - não nos enganemos - o dinheiro de todos nós. As redes de corrupção que alimentam, o compadrio que fomentam, a toxicidade que constantemente infundem no discurso público e a sua inqualificável falta de responsabilidade perante o Bem Comum são indicadores característicos de agentes políticos e partidários que estão ao nível de meros carteiristas, com a única diferença de que a verbas que usurpam são, quase sempre, de alguns milhões para cima.
Face a tudo isto, muita da população portuguesa, à semelhança do que já tem vindo a acontecer em alguns países europeus, começa a procurar alternativas. Cientes de que aquilo que hoje temos em Portugal está muito longe de qualquer mecanismo ou processo de funcionamento que seja normal numa democracia, exigem escrutínio a quem gasta, visão para um país que empobrece, propostas exequíveis para uma sociedade que perde qualidade de vida e responsabilidades políticas para quem, tendo-as, teima em querer vender à população a ideia de um país de sonho, a qual é vergonhosamente diferente da dura realidade que os trabalhadores, as famílias, os jovens, as empresas e os pensionistas enfrentam todos os dias.
Entre observadores que andam distraídos e comentadores que, por simples conveniência, escolhem ser caciques opinativos e ignorar o óbvio, há pessoas que perguntam porquê tal mudança e o que está a levar tantas pessoas que, ou nunca votaram, ou votaram em partidos do arco da governação, a considerar novas escolhas. As respostas, apesar de incómodas, não são difíceis de perceber.
No fundo, as pessoas – que trabalham, que pagam impostos, que vêem os seus filhos sem poder comprar casa, que vêem o carrinho das compras cada vez mais vazio, que vêem a Causa Pública ser desprezada, que vêem a inqualificável proliferação de redes de enriquecimento elícito e que vêem as cidades do seu país a serem vendidas a retalho pela especulação imobiliária selvagem – estão fartas.
Fartas de ver gente em lugares de poder a negar a realidade dos factos, a criar conflitos inúteis e a se comportar como se conhecessem as soluções para todos os problemas, mas sem nunca apresentar uma resolução para os muitos e pesados desafios com que as pessoas se confrontam.
Fartas de parlamentares sem elevação, perdidos em conversas paralelas, apartes degradantes, ensaios humorísticos sem piada nenhuma e que, sem pejo, nem mestria, nem respeito nenhum pelos mínimos a observar, fazem da arrogância e da malcriação a sua única e lastimável marca.
Fartas de incompetentes que gostam mais de destruir do que construir, que estão mais interessados em estar do lado do problema do que a favor da solução e que, de tanta ânsia em deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja, procuram queimar pessoas na praça pública com acusações falsas, suspeitas infundadas e perfis forjados nas redes sociais.
Fartas de ver o rigor substituído pelo espectáculo, de ver a seriedade com que o Bem Comum devia ser gerido substituída pelo tratamento comicieiro, de sentir a agenda das minorias empurrada pela garganta abaixo e de ver a discussão construtiva, sensata e humana a ser preterida em prol do seguidismo e da falta de alternativa.
Como tantos outros problemas que afectam e asfixiam a nossa governação, muitas destas situações são casos de simples bom-senso e da mais básica ética política. Porque, durante tanto tempo, tantos líderes e tantos partidos continuaram a assobiar para o lado, tratando as pessoas como idiotas úteis, numa grande farsa sobre a Democracia, a mudança é imperativa. Poderá não ser hoje ou já. Mas ela virá. Pois, pelo nosso próprio bem, mudar é um imperativo incontornável.