Análise

Uma oportunidade perdida

O partido que governa a Região há quase meio século apresentou uma lista de candidatos a deputados sem ambição, sem rasgo, premiando os de sempre, os que representam interesses instalados. Um rol de nomes com pouca história onde a única novidade digna de nome, José Luís Nunes, nem sabe bem ao que vai. Fará o que o partido lhe disser para fazer, se possível acumulando com a presidência da Assembleia Municipal do Funchal.

As sondagens publicadas durante a semana no DIÁRIO revelam uma tendência claríssima do eleitorado madeirense, que aniquila por completo qualquer pequena ambição da esquerda, conferindo-lhe o trágico estatuto de dispensável e sem peso para qualquer tipo de aliança que faça estremecer a direita. De momento não há nenhum dado que permita vislumbrar a mínima possibilidade de o maior partido da oposição, o PS, vencer as próximas eleições. Miguel Albuquerque sabe disso, porque tem quase tudo a seu favor e porque a população, a fazer fé nos estudos de opinião publicados, não reconhece alternativa a nenhum outro partido. Tinha por isso as melhores condições para optar por personalidades com outro tipo de perfil, abrindo o partido à sociedade civil, às mulheres (13 em 47 é manifestamente insuficiente) e aos jovens, preparando o PSD para o futuro, para as questões fracturantes e decisivas, imprescindíveis para uma nova forma de fazer política. Optou pela continuidade, por premiar autarcas em fim de mandato. Não está em causa as qualidades e competências de cada um, mas colocá-los em lugares cimeiros e elegíveis mostra que há uma ‘prateleira dourada’ à espera de cada um e que a escolha dos deputados faz-se observando outros valores que não apenas o do interesse da Região. Têm trabalho garantido quando o mandato autárquico terminar, é essa a leitura que todos fazem. A mais de um mês do dia das eleições o PSD pode não conseguir eleger o número de deputados que as sondagens, feitas antes da apresentação da lista, ditam. A dinâmica de vitória é clara, mas os eleitores estão mais maduros, vigilantes e exigentes. Não gostam que a política seja um clube de e para os amigos, nem para os mesmos de sempre.

Albuquerque demonstrou fraco poder de mobilização de novos quadros emergentes. Não arrisca e acha que assim chega, revelando tiques de arrogância e a certeza de uma vitória antecipada. Que mensagem passa às gerações mais novas, aos que olham de lado para a classe política, aos que perdem a esperança de serem elementos activos nas mudanças que se impõem?

2. O presidente do Observatório de Emprego e Formação Profissional da Universidade da Madeira traçou o retrato sobre os problemas que os jovens enfrentam, hoje, no mundo laboral.

Entre 2011 e 2022 os que têm 24 e 35 anos tiveram uma redução do salário real de 6%. O problema é estrutural, como ressalvou Paulo Silva Lobo em entrevista ao DIÁRIO. Para além de ser um problema decorrente da falta de produtividade, a precariedade e os vencimentos baixos devem-se, também, a uma carga fiscal desmesurada, que impede muitas empresas - a esmagadora maioria PME - de aumentarem as remunerações dos seus colaboradores.

Em tempo eleitoral era conveniente os partidos apresentarem propostas concretas para inverter um cenário que começa a arrastar-se demasiado tempo. Que possibilidades concretas tem um jovem para arrancar com a sua vida de forma autónoma, quando tudo é dificuldade? Que hipótese tem um jovem casal de constituir família e ter filhos se adquirir uma casa é uma tarefa quase impossível? Que geração de jovens estamos a construir?

O problema é basilar, por isso merece discussão séria.