250 mil na festa madeirense em New Bedford
Nestes dias no Madeira Field, em New Bedford, o local onde decorre a festa do Santíssimo Sacramento, o movimento é intenso. A comissão organizadora, constituída só por madeirenses, tem famílias inteiras a trabalhar voluntariamente.
Está tudo organizado, uns ficam responsáveis pela barraca da carne, outros pela barraca do bolo do caco, outros ainda pela barraca das malassadas, pela barraca do vinho, e assim sucessivamente. São no total 12 grandes barracas.
Não sabemos ao certo quantos voluntários participam, mas sabemos que a comissão dos festeiros é composta por cerca de 30 elementos, que acompanham o presidente desta celebração em 2024, James Gouveia, luso-descendente com raízes na freguesia da Fajã da Ovelha, concelho da Calheta.
As ruas estão embandeiradas como nos arraiais na Madeira e à noite o movimento é ainda maior, os forasteiros querem ouvir as grandes bandas musicais que actuam nos quatro palcos do evento. O DIÁRIO percorreu o recinto e os seus arredores e falou com diversos madeirenses que relataram a experiência e o trabalho que a festa dá.
Falamos com Luís Meneses, natural de São Vicente, que estava na barraca da carne. Disse que está há 52 anos na América e há 50 anos que participa na festa do Santíssimo Sacramento de New Bedford.
“Eu sou a pessoa responsável por cortar a carne de vaca para depois fazerem a espetada. Normalmente vendemos 10 mil libras nessa festa, pois estamos a falar em cerca de cinco toneladas”, explicou o emigrante, de 78 anos, referindo que para cortar todo o produto tem muita ajuda de voluntários que trabalham na barraca durante estes quatro dias.
Já quando questionado sobre o que o motiva a participar na festa, respondeu que “é viver as nossas raízes, as nossas tradições madeirenses e esta festa é um centro de comunicação com os madeirenses que vivem em todos os Estados Federais dos Estados Unidos da América e da comunidade portuguesa”.
O evento torna-se um ponto do encontro dos madeirenses,” frisou, lembrando que antes de vir para América trabalhava no Savoy Hotel, na Madeira, como empregado de mesa, e que o primeiro emprego fora da Região foi montar luzes numa empresa.
Já na barraca do bolo do caco encontramos João Quintal, que emigrou há 57 anos para os Estados Unidos da América. Ao DIÁRIO disse com orgulho que também é um dos acérrimos colaboradores da maior festa portuguesa do mundo organizado por madeirenses.
À medida que ia colocando os muitos bolos a cozer disse que nesta festa costumam vender mais de 4.000 bolos do caco. “É preciso muita farinha e muitas mãos para ajudar a fazer tanto bolo do caco. Mas tenho a ajuda de várias pessoas e inclusive de dois irmãos que estão também na América”, adiantou o emigrante.
João Quintal é natural da freguesia do Caniço, do concelho de Santa Cruz, e salientou que participa na festa madeirense desde 1970, ou seja, há 53 anos. “Para nós, madeirenses, é um orgulho realizarmos a maior festa da cidade de New Bedford, onde participam milhares e milhares de pessoas. Vem tanta gente de tanto lado e assim mantemos as tradições da Madeira e matamos a saudade da nessa terra”, esclareceu.
Já os dois jovens artistas descendentes de madeirenses, Jackson Neves e Jacob Gervais, referiram à nossa reportagem que é a segunda vez que actuam no palco principal da Festa. Neste evento existem quatro palcos onde actuam diversos artistas e bandas musicais.
Jackson Neves, cujos avós são naturais da Camacha, canta e toca guitarra e diz que só visitou uma vez a ilha da Madeira. Quanto à parceria, explica: “Nós somos amigos desde a escola primária e recentemente começámos este projecto musical. A música que mais gosto de tocar é a dos anos 60 e 70 e os Beatles e Elvis Presley são os meus artistas favoritos”.
Jackson disse ainda que quem o convidou para tocar foi o avô, que está a colaborar na organização da festa deste ano. “A minha família já vive aqui nos Estados Unidos há muito, muito tempo. Eu gosto muito de tocar nesta festa e cresci com esta festa e é a segunda vez que tocamos cá, mas esta foi a primeira vez que tocámos no palco principal”, frisou o luso-descendente.
Já Jacob Gervais, que também toca guitarra, disse não saber de que zona da Madeira eram originários os seus avós. “Nós já temos alguns temas originais, creio que são dez neste momento, e estamos a pensar na hipótese de lançar um disco. Estamos a trabalhar nisso, mas este ano, nesta festa, gostamos muito de pisar o palco principal nesta que é a maior festa da cidade de New Bedford e arredores”.
Missa solene em louvor do Santíssimo Sacramento
Amanhã, pelas 9h15, tem início uma missa cantada na igreja portuguesa da Imaculada Conceição, a qual assistem todos os 30 festeiros, as suas esposas e todos os membros do Club Madeirense do Santíssimo Sacramento, seguindo uma tradição com mais de um século. A celebração é cantada pelo coro da igreja local.
Também marcará presença neste acto religioso o secretário regional da Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos, que se encontra em New Bedford, a participar nesta festa em representação do presidente do Governo Regional da Madeira.