Álvaro Beleza defende quotas para jovens na política e critica medidas do Governo na habitação
O presidente da SEDES e dirigente socialista Álvaro Beleza defendeu hoje quotas para aumentar a participação de jovens abaixo dos 35 anos na política e limites máximos de idade para candidaturas a cargos políticos, "nomeadamente executivos".
O médico e membro da Comissão Política do PS foi hoje o convidado do jantar-conferência da Universidade de Verão do PSD, durante o qual deixou elogios à política de saúde do Governo socialista -- "ótima e reformista" -, mas reiterou as críticas que tem feito a algumas medidas na área da habitação, de que disse ter "muito receios".
Numa curta intervenção inicial, o presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) respondeu com propostas ao desafio do diretor desta iniciativa de formação política, o eurodeputado Carlos Coelho, que lhe perguntou se existe "um Portugal grisalho".
"Assim como se fizeram as quotas de género - e bem para que houvesse mais mulheres na política, mas também nas empresas, nas administrações, na liderança - era altura de criar quotas para jovens de menos de 35 anos na política, nos cargos políticos a todos os níveis", defendeu.
Álvaro Beleza sugeriu ainda que, tal como a Constituição define um limite mínimo para que alguém se possa candidatar a Presidente da República (35 anos) -- tema "que agora está muito em cima da mesa" - se possa também estabelecer um limite máximo.
"Acho que, assim como eu médico do SNS aos 70 vou ter de me reformar e bem, devia haver um limite também para se poder candidatar a órgãos políticos, executivos nomeadamente", afirmou.
Beleza considerou que com essas regras será possível "rejuvenescer o país", e deixou um aviso aos jovens alunos: "Se vocês não se impuserem, a minha geração não desampara a loja".
O médico, que começou por militar na JSD, deixou elogios ao anúncio do Governo de alargamento das Unidades Locais de Saúde (ULS) a todo o país, mas críticas à contratação de médicos cubanos.
"Portugal precisa de gente de fora de quem nos queira procurar, agora fazer acordos com um Governo de uma ditadura comunista não faz qualquer sentido", defendeu, admitindo que o lugar de ministro da Saúde -- a par do de líder da oposição -- "são os piores da política portuguesa, são sacos de pancada".
Pelo contrário, na área da habitação, o dirigente socialista reiterou críticas ao pacote do Governo, nomeadamente na medida de congelamento de rendas, que só admitiu como transitória "por dois ou três anos", e defendeu uma política pública de construção para arrendar.
"Portugal está na moda, uma das razões para esta crise da habitação deve-se ao sucesso do país", considerou, voltando a defender que o país pode ser "a Califórnia da Europa, ou até melhor", sobretudo se conseguir implementar uma fiscalidade mais competitiva.
Elogiado por um aluno pelo seu "espírito livre", Álvaro Beleza disse ter entrado para a política inspirado nos fundadores do PSD e do PS Francisco Sá Carneiro e Mário Soares, respetivamente, que também eram "homens livres".
"Não concebo que se esteja na vida política sem se dizer o que se pensa, isso não são políticos, são proletários de máquinas, de agências de emprego", criticou.
Ao longo da conferência -- que hoje durou cerca de uma hora, contra as mais de duas dos anteriores oradores, Paulo Portas e Marcelo Rebelo de Sousa -, reiterou a ambição expressa num livro da SEDES de duplicar o PIB e o rendimento dos portugueses, apelou a necessidade de entendimentos entre PS e PSD em matérias como as reformas eleitorais, a justiça ou a defesa, mas assegurou sentir-se "muito bem no PS como um liberal de esquerda".
Ainda assim, confessou, no final, que sempre desejou participar na Universidade de Verão do PSD: "Sinto-me um bocado um miúdo, foi uma noite muito divertida", afirmou, recebendo um grande aplauso de pé dos cerca de cem alunos.