Guterres envia carta a Lavrov com propostas para repor acordo dos cereais
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse hoje que enviou uma carta ao chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, com um conjunto de propostas para repor o Acordo dos Cereais do Mar Negro.
"Apresentamos um conjunto de propostas concretas numa carta que enviei ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, (...) que permitem criar as condições para a renovação da iniciativa do Mar Negro. Acreditamos que essa iniciativa dá um contributo muito importante para tornar os mercados alimentares mais conforme os nossos objetivos de segurança alimentar", disse Guterres a jornalistas, na sede da ONU, em Nova Iorque.
De acordo com o líder da ONU, foram levados em consideração "os pedidos russos" para reatar o acordo, pelo que a proposta apresentada poderá "ser a base para uma renovação, mas uma renovação que deve ser estável".
"Não podemos ter uma iniciativa no Mar Negro que passe de crise em crise, de suspensão em suspensão. Precisamos de ter algo que funcione e que funcione para o benefício de todos", sublinhou.
A 17 de julho, Moscovo suspendeu o acordo de exportação de cereais através do Mar Negro a partir dos portos ucranianos, inicialmente assinado em julho de 2022 com a mediação da Turquia e da ONU.
Na ocasião, Moscovo assegurou que o fazia pela impossibilidade de exportar os seus cereais e fertilizantes, pelo bloqueio dos seus pagamentos bancários e o congelamento dos seus ativos no estrangeiro.
Guterres, que desde o início da guerra na Ucrânia teve como uma das suas principais prioridades a implementação e bom funcionamento deste acordo, reforçou hoje ser de "extrema importância" a sua renovação, especialmente devido ao seu contributo para a redução dos preços dos alimentos à escala global.
Apesar de não ter entrado em pormenores, o ex-primeiro-ministro português indicou ter proposto algumas soluções concretas para as preocupações russas em relação à exportação dos seus alimentos e fertilizantes para os mercados globais.
"Acredito que, trabalhando seriamente, podemos ter uma solução positiva para todos: para a Ucrânia, para a Federação Russa, mas, mais importante do que tudo o resto, para o mundo, num momento em que tantos países enfrentam enormes dificuldades em relação à garantia da segurança alimentar das suas populações", defendeu o líder das Nações Unidas.
Na conferência de imprensa, Guterres aproveitou ainda para abordar a semana de alto nível da 78.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, que decorrerá em setembro em Nova Iorque e onde estarão reunidos chefes de Estado e de Governo de dezenas de países, com a guerra na Ucrânia a voltar a estar em foco.
Apesar de garantir que nunca perde a esperança, o secretário-geral disse que "estaria a mentir" se dissesse que acredita numa possibilidade de paz na Ucrânia no horizonte imediato.
"Acho que ainda não chegamos lá. E é por isso que é tão importante tomar medidas para reduzir os impactos dramaticamente negativos desta guerra em relação ao mundo", disse.
Horas antes, também numa conferência de imprensa, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, poderá participar presencialmente na semana de alto nível das Nações Unidas.
"Segundo sei, a Albânia irá acolher, durante a semana de alto nível, uma reunião sobre a Ucrânia, e ouvimos dizer que o Presidente Zelensky poderá estar aqui. Portanto, sim, a Ucrânia também estará no topo da agenda de todos", disse a diplomata norte-americana à imprensa, após fazer um balanço da sua presidência rotativa do Conselho de Segurança, durante agosto.
A abertura da 78.ª sessão da Assembleia-Geral está agendada para 05 de setembro e o seu debate geral acontecerá a partir do dia 19 do mesmo mês.
Durante a semana de alto nível, além do debate geral, estão previstos ainda eventos como a cimeira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a cimeira da Ambição Climática, um diálogo de alto nível sobre financiamento para o desenvolvimento, entre outros.
No ano passado, a semana de alto nível das Nações Unidas ocorreu pouco mais de seis meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, pelo que Zelensky optou por não sair do seu país e discursou no debate da Assembleia-Geral da ONU através de uma mensagem de vídeo pré-gravada.