Jacqueline Cavalcanti gosta "de travar guerras" e será primeira portuguesa na UFC
A portuguesa Jacqueline Cavalcanti estreia-se no sábado num evento da UFC, principal promotora mundial de artes marciais mistas (MMA), e será a primeira mulher a representar Portugal neste patamar, e diz à Lusa gostar "de travar guerras".
"Eu gosto de travar guerras. Quanto mais equilibrada é a luta, melhor para o público, e melhor me sinto quando ganho, com um sabor de uma boa vitória, que valeu a pena", explica, em entrevista à Lusa, a dias da estreia.
A lutadora de peso-galo vai defrontar, em Paris, uma atleta da casa, Zarah Fairn, na estreia entre o Ultimate Fighting Championship, ou UFC, a maior, mais popular e lucrativa organização de MMA do mundo, cujo pioneiro português, no masculino, foi o luso-angolano Manuel Kape.
Também Cavalcanti, de 26 anos, tem dupla nacionalidade, tendo nascido no Brasil antes de se mudar para Portugal em 2009, e foi em Almada, onde vive, que chegou ao taekwondo, depois de passar por algumas artes marciais em criança, no país de origem.
"Comecei a treinar kickboxing e muaythai, foi quando conheci o MMA. Ainda era algo desconhecido em Portugal, havia poucas academias. Era ainda conhecido como o antigo 'vale tudo' [estilo popular no Brasil no século XX e grande precursor das 'mistas']", referiu.
Em 2018, deixou o kickboxing de parte para se dedicar a "treinar e lutar MMA", por saber "que para chegar ao UFC ia demorar um longo tempo", e arrancou na Reborn com as primeiras lutas.
Demorou cinco anos a chegar ao palco idealizado, o que considera "o tempo perfeito".
"Dei o máximo de mim desde o início, desde o circuito amador no kickboxing e muaythai. Ao chegar ao UFC, acho que podia ter entrado mais cedo, mas não chegaria com esta experiência e sabedoria de vida", comenta.
Na tarde de sábado, em Paris, Cavalcanti vai lutar contra uma adversária 'da casa', de 36 anos, na categoria -61,2 kg o primeiro combate do contrato com a UFC, numa carreira em ascensão que a deixa no 33.º posto do ranking dos Estados Unidos e em 19.º entre europeias.
Para isso muito contribuiu a conquista do título da Legacy Fighting Aliance, em abril, quando bateu a canadiana Melissa Croden, determinante para este 'bilhete' carimbado em junho.
"Cinco anos podem parecer pouco tempo para chegar ao UFC, mas eu não comecei há cinco anos, comecei há 11. A minha visão já era chegar no UFC nessa altura. Mas não sabia o que precisava de fazer. Foi sendo construído aos poucos", avalia.
Essa vida leva-a a combater um pouco por todo o mundo, até porque admite só ter tido um combate oficial em Portugal até aqui, e a campos de treino e trabalho em sítios como a Black House MMA em Los Angeles, uma das referências a nível mundial.
A preparação para este sábado na capital francesa teve cinco semanas de preparação, curto para as habituais oito a 12, uma vez que foi chamada a combater devido à lesão de outra competidora.
Apesar disso, como nunca para "totalmente de treinar" e se dá bem com trabalhar "luta sobre luta", "a preparação correu superbem" e agora está a olhar para a vitória, até porque "ninguém entra no octógono a pensar que vai perder".
"Vejo que tenho possibilidades de vitória e quero ganhar, fazer uma boa prestação. A primeira impressão é que conta. Então de certeza que vai ser uma grande luta, com uma grande adversária", afirma.
Agora, quer trazer mais mulheres para o MMA a partir do seu exemplo, que possa "incentivar e motivar as pessoas a chegar aonde desejam, nas artes marciais mistas ou na vida", e começar um caminho até ser uma "campeã dominante".
"Não é chegar e ir embora. É ser uma atleta constante, lutar constantemente, e sim, ser campeã do UFC, mas ser uma campeã dominante. Quero ter o cinto por um bom tempo", atira.
A ambição vem de mãos dadas com a determinação no caso de Jacqueline Cavalcanti, que passou uma década a pensar neste objetivo e a acumular os treinos com o trabalho, em Portugal, começando por ser empregada de mesa, a treinar após oito horas em pé, para trabalhar depois em logística numa grande superfície de decoração e mobiliário.
"Tirava-me a energia, porque acordava às três ou quatro da manhã para repor cargas pesadíssimas. As pessoas chegam à loja e está tudo muito organizadinho e bonitinho, mas é porque estiveram umas 20 pessoas a repor aquilo", revela.
Desde então, fez um curso na área do exercício físico e é 'personal trainer', mas desde janeiro que se tem "focado a 100% no MMA", área em que se vai solidificar como referência no país.
"[O aliciante] é o desafio que o MMA traz. Tem várias artes marciais, e diariamente é um desafio estar-se a passar por isto. Hoje estás muito boa no 'strike' ou 'muaythai', depois vais ao 'wrestling', jiu jitsu, mix e não encaixa muito bem. Diariamente tenho de me desafiar. (...) Quando toca o gongo dentro do octógono, está tudo nas tuas mãos. Encaro cada luta como se fosse a última", remata.