A Rússia de Putin
Entretanto, o que era para ser uma “operação relâmpago” transformou-se numa guerra feroz
A presidência de Putin tem sido marcada por uma consolidação do poder, dentro do Poder Executivo, um endurecimento do controle sobre os meios de comunicação sociais e uma redução da oposição política. Os críticos argumentam que essas ações levaram a um, ainda, maior declínio das liberdades políticas e das instituições democráticas no país.
A política externa da Rússia, sob Putin, tem sido caracterizada por esforços para reafirmar a influência do país no cenário global. Isso incluiu acções como a anexação da Crimeia e do Donbass (Ucrânia) em 2014, o envolvimento no conflito sírio e tensões diplomáticas com nações ocidentais, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia.
A economia da Rússia é fortemente dependente das exportações de petróleo e gás, tornando-a vulnerável às flutuações nos preços globais da energia. As sanções económicas, impostas pelos países ocidentais após a anexação da Crimeia, e a suposta interferência em eleições estrangeiras (como na de Trump, nos EUA) também tiveram impacto na economia russa.
A presidência de Putin viu um renascimento do sentimento nacionalista e uma promoção dos valores tradicionais russos. Isso incluiu esforços para enfatizar o papel da Igreja Ortodoxa Russa (que esteve em estado “dormente” durante a vigência da URSS) e reforçar um senso de identidade nacional.
Houve preocupações acrescidas sobre restrições à liberdade de imprensa e expressão na Rússia. Meios de comunicação críticos ao governo têm enfrentado enormes desafios. Há relatos de jornalistas e activistas enfrentando assédio e violência, em alguns casos, até à morte ou desaparecimento.
Figuras da oposição, incluindo Alexei Navalny, enfrentaram desafios legais, prisões e tentativas de envenenamento. Os protestos contra o governo foram recebidos, com diferentes níveis de repressão, por parte das autoridades. As relações da Rússia com os países ocidentais, particularmente com os Estados Unidos e com nações europeias, têm sido tensas, por diversas questões, incluindo disputas territoriais, ataques cibernéticos e alegações de interferência em eleições.
No dia 22 de Fevereiro de 2022, Putin decidiu e ordenou a invasão da Ucrânia chamando-lhe “uma operação militar especial” para libertar território pertencente à Rússia e “proteger” os ucranianos de supostos movimentos extremistas, nazis e neonazis, ucranianos.
Na perspectiva de Putin, as tropas russas e os mercenários do Grupo Wagner iriam ser recebidos com aplausos pelos ucranianos e a “operação” duraria poucos dias. Ainda hoje está para cumprir-se esse desejo de Putin.
Entretanto, o que era para ser uma “operação relâmpago” transformou-se numa guerra feroz e extraordinariamente destrutiva, como não se via, na Europa, desde a II Guerra Mundial. Na sequência das sanções impostas e do esforço de guerra, a economia russa começa a ressentir-se bastante tendo sido necessário aumentar, exponencialmente, a despesa com a defesa para próximo dos 10% do PIB, enquanto o Rublo sofre desvalorização significativa e persistente.
Os países Nato, os EUA, o Canada e outros países “ocidentais”, decidiram apoiar a Ucrânia com meios militares, formação especializada de militares ucranianos e massivo apoio económico que, a juntar à bravura do povo ucraniano sob a liderança de Volodymyr Zelensky (goste-se mais ou menos da personagem), tem impedido a almejada rápida vitória das forças russas.
O inesperado (para Putin) desenlace da “operação militar especial”, a juntar às pressões externas (e internas…), ao abalo da economia, à posição pouco clara da China e da Índia, a tentativa falhada de golpe liderado por Yevgeny Prigozhin (ex-amigo e aliado de longa data de Putin) e a sua “aparente” morte em estranho acidente aéreo, nos últimos dias, vieram tornar mais confusa a situação.
Entretanto, a crise resultante da guerra da Ucrânia veio juntar-se às dificuldades económicas mundiais, já exacerbadas pela pandemia (Covid19). Sendo a Ucrânia considerada o “celeiro” do mundo, a crise faz-se sentir, em especial, no difícil e deficiente fornecimento de cereais e na sobrecarga orçamental nos países apoiantes da Ucrânia.
A proximidade das eleições nos EUA, o problema eleitoral espanhol, a situação de conflito social em França, o desconhecimento externo da situação política e social real na Rússia, a posição discordante da maioria das antigas Repúblicas Soviéticas, são alguns dos factos que contribuem para a incerteza do desenlace da situação.
A nós, pacatos habitantes do canto mais ocidental da Europa, só nos resta esperar para ver.