Tempos estranhos!
Tempos estranhos estes que estamos vivendo, tempos que desdizem o que tínhamos garantido como certo, tantas vezes com constatações de sinal oposto ao que eram há meio século atrás. Se acompanharmos a estranheza das profundas modificações sociais e de ideais que deixaram de o ser às modificações sofridas pela natureza provocadas pelas alterações climáticas das quais ninguém pode dizer que está isento de culpas, ainda mais estranhos podemos considerar.
Recordaram-me há alguns dias um sketch dos visionários (seriam?) Monty Python, passado na altura da fundação da fé cristã, e que na altura foi considerada uma piada, uma blague, se quisermos chamar assim, às normas em vigor instituídas por séculos de regulação pela Igreja Católica, gostasse-se ou não. Era assim, e quem se atrevia a fazer piada corria o risco de ser considerado “herege”, não da Igreja, mas sim da própria sociedade que não encarava com bons olhos estes tipos de heresias.
Mas temos de reconhecer que os Monty Python foram pioneiros na exploração de non-sense tão caro aos britishes, tendo deixado umas mãos cheias de excelentes sketches cheios tanto de piada como de “acertadelas” nos alvos pretendidos. E a Igreja Católica, como “manda-chuva” das normas sociais de então, era sem dúvida um maná para humoristas imaginativos como os Python!
Deixo um resumo com uma tradução mais ou menos livre de um episódio de 1979 que seria mais ou menos assim: estando alguns discípulos conversando sobre isto e aquilo (que era o que faziam melhor, conversar sobre isto e aquilo, mordendo em tudo o que mexia enquadrado nos istos e aquilos que lhes interessava picar!), um deles, Stan, insistia que as mulheres tinham todo o direito a participarem no movimento deles quando um outro lhe perguntou porque cargas de água ele tinha sempre de falar em mulheres, o Stan respondeu:
- Eu quero ser uma!
“What??” perguntou Reg, o chefe.
- Eu quero ser uma mulher e daqui em diante quero ser chamado de Loretta! Eu quero ter filhos!
“Porque raio queres ser Loretta e porque raio queres ter filhos? Tu não podes ter filhos!”
Pensativo mas um pouco aturdido com a realidade da constatação, Stan/Loretta disse:
- Não me oprimas!
“Não te estou a oprimir Stan, tu não tens um útero!”
Stan ficou numa fossa e então, a Madalena (que na realidade se chamava Judith) lá do grupo saiu com uma sugestão. Sugeriu que, estava certo, o Stan não podia ter filhos, mas não ter um útero não era sua culpa, mas podiam lutar pelo direito de tê-los. “Boa ideia” disse um quarto elemento do grupo, “assim podemos lutar contra o opressor dizendo que ele tem o direito de ter filhos…” (o opressor, neste caso eram os romanos, já que a história se passava na altura em que a Igreja estava dando os primeiros passos).
“Mas com que finalidade?” pergunta o chefe. “What?” espanta-se o da ideia. “Com que finalidade vamos lutar por uma coisa que não pode acontecer?” completa o chefe. “Passa a ser um símbolo da nossa luta contra o opressor” riposta o quarto elemento.
“Um símbolo da luta contra a realidade” murmura o chefe para si mesmo!
Em 1979 este sketch foi considerado uma piada, em 2023 é uma realidade. Mas uma realidade de sinal contrário (o menos do mais ou o mais do menos, consoante o ângulo por onde olhemos) em que a piada passa a ofensa para uns que em pouco tempo exigirão que este tipo de episódios sejam banidos da memória histórica.
Tempos estranhos estes que estamos vivendo, mesmo em tempo de “silly season”, com o “silly” a espalhar-se por todas as “seasons”!
Não sei que opinião possam ter os sobrevivos Monty Python a este diálogo que inventaram como piada, mas que se foi transformando em realidade, foi. Aliás, como temos constatado, a realidade tem quase sempre sobrepassado a ficção, por muito imaginativa que seja.
O estranho não é o facto de os homens terem o direito de poderem criar filhos, mas sim a forma como a sociedade foi aceitando realidades que eventualmente não existem. Um homem pode criar filhos, seus, adoptados, nascidos em barrigas de aluguer ou de qualquer outra forma, mas não podem, por não terem anatomicamente o recipiente que permite que os fetos se desenvolvam e se tornem bebés! Anatomicamente não têm essa capacidade, destinada às mulheres! Por isso uns são XY e outras são XX, em termos cromossómicos.
Vi, há uns dias um outro episódio (sketch, se assim quisermos), cujos autores não sei os nomes, mas não de autoria dos Python, bem mais recente, em que o narrador dizia ser um trans quase tudo. E dizia que é preciso aproveitar a onda, ele que basicamente era um (no original) translate, isto é, não era uma tradução, mas sim alguém que estando sempre atrasado (late, em inglês), identificava-se como sempre pontual, e que, por isso, o chefe não o poderia penalizar.
Ainda não chegámos a esse ponto, mas pouco falta. Até que alguém grite “o Rei vai nu”, quando todos os inteligentes do reino o “viam” sumptuosamente vestido!
A “estação pateta” a espraiar-se pelo ano todo!
Continuação de umas boas férias, um bom regresso ao trabalho ou uma boa continuação da actividade que possam estar a desenvolver neste tempo esquisito e meio pateta que estamos a viver!
P.S. – Julho foi o mês mais quente desde que há registos. Agosto vai pelo mesmo caminho e Setembro também se prevê quente, não só por efeito das alterações climáticas, mas também pelo prolongar da chamada “estação pateta” eivado pelas, enfim, “silly things” que se dizem quando em campanha pelos votos…