Grande e pequeno
Grande e pequeno são conceitos relativos. Grande em relação a, pequeno comparado com.
A morte anunciada de Yevgeny Prigozhin, num acidente (?) ocorrido com um pequeno avião, algures na Rússia, teve um grande impacto interno e externo, e todos se reservam sobre as cenas dos próximos capítulos. – mesmo os mais cotados analistas.
Provavelmente, veio à memória dos portugueses outro “acidente”, o que vitimou Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, em 4 de Dezembro de 1980, em Camarate, à descolagem de um pequeno avião do aeroporto de Lisboa.
No caso português, Sá Carneiro decidiu, em cima da hora, trocar o voo comercial da TAP pelo pequeno avião de Amaro da Costa. Decisão fatal, que lhe custou a vida. Mas não podia adivinhar a armadilha que estava montada para o seu companheiro de campanha eleitoral.
No caso russo, os contornos são outros. Li algures (e algures é uma boa fonte de informação) que Prigozhin fora aconselhado a evitar voos comerciais, por eventuais reacções dos passageiros. Optou por um pequeno avião, o que veio a ter a vantagem de diminuir os efeitos colaterais, como agora se diz. Dez mortos não são duzentos mortos, e o preço do avião não é o mesmo.
Para quem não acredita da Divina Providencia, há que providenciar os resultados pretendidos.
Os historiadores, profissionais ou dilettanti, afadigam-se a buscar constantes históricas.
Parece haver aqui uma. Desde os tempos de Ivan Grozni (Ivan, o Terrível – 1530-1584) contrariar o dono do Kremlin dá mau resultado.
Para reforçar o seu poder pessoal, Ivan criou a Oprichnina, espécie de ordem cujos membros erem conhecidos por oprichnik, dispondo de território, meios e de privilégios especiais, e cuja missão era espalhar o terror entre os nobres e reais ou supostos adversários. Como distintivo, penduravam uma cabeça de cão nos seus cavalos.
O número conhecido de vítimas varia ente sessenta mil, o que parece exagerado, e mil e quinhentos nobres e outras tantas criaturas de menor condição.
Mas na guerra da Crimeia de 1571-1572 (outra!) os oprichnik não estiveram à altura de um exército regular, e Ivan dissolveu a Oprichnina, inclusive executando seus líderes e negando que a organização alguma vez tivesse existido.
Ao contrário dos avisos do cinema americano, qualquer e semelhança é mais do que simples coincidência.
O chefe da moderna Oprichnina foi eliminado, mas a organização, por enquanto, mantém-se. Os novos oprichnick tiverem que jurar fidelidade ao Czar, não de todas, mas das restantes Rússias, cumprida que foi a sua missão na Ucrânia.
Provavelmente irão, não para as estepes da Sibéria, mas para o pré-deserto do Sahel, que já conhecem bem.
Não muito longe do Magreb, onde se distinguiram a Legião Francesa e a Legião Espanhola.
Será outra constante histórica?