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O lado B dos recordes

Todos ou quase todos nós andamos a bater recordes. De ocupação, de receita, de preço médio, de revpar e de tudo o mais que seja métrica, que não vou elencar por falta de caracteres para esse efeito.

Ele é vê-los todos, a cair que nem tordos, à conta do excelente trabalho de todas as entidades, destacando-se evidentemente as públicas, a julgar pelo menos pela velocidade e frequência com que se sucedem os anúncios e as parangonas nos jornais.

Ao mesmo tempo, também batemos recordes de falta de pessoal, de percentagem de colaboradores não qualificados a exercer funções para as quais não estão habilitados, de custos de mão-de-obra, de energia e de FSE’s vários. De número de camas disponíveis, de rent-a-cars abertas num tão curto espaço de tempo ou de prédios a brotar do solo.

Adivinho – porque não consigo ter evidência disso – que devemos andar a rebentar a escala das facturações não declaradas e dos pagamentos por fora aos colaboradores, assim como do número de visitantes por hora em determinados locais mais turísticos e mesmo de pessoas a passear pelas nossas cidades.

Juntando isto tudo, temos em resumo o quê? Clientes a pagar mais (em alguns casos, muito mais) por um produto pior, em certas situações com altos níveis de insatisfação por via da pressão que já existe e com um serviço que não tem nada a ver com aquilo que era suposto estarmos a oferecer.

Com tanta primeira página de recordes e prémios, ninguém quer ir num instantinho verificar rácios preço-qualidade? Índices de satisfação? E um inquéritozinho, a ver o que nos dizem os que nos visitam?

Façam um pequeno exercício, que tem muito errado, mas que para início de conversa talvez ajude: - peguem em 10 hotéis de cada categoria, que existam há pelo menos 10 anos e comparem, nos sites que expõem isso, as classificações em 2013 e as de agora. Depois façam o mesmo e comparem as médias dos 10 primeiros hotéis em 2018 com as dos melhores 10 deste ano. Pois…

Eu bem sei que, para alguns, mais é melhor. Esses acham que se tivéssemos mais hotéis estávamos a fazer mais receita, a colectar mais impostos, a ganhar mais dinheiro, a empregar mais pessoas. Pois eu sou um convicto crente da máxima, que julgo se aplica na perfeição a este sector, de que menos é seguramente mais!

Sei, por experiência própria e provada, que ter mais clientes dentro de casa não significa de todo um aumento de receita, sobretudo nos outlets de que dispomos. Sei que não é a 100% de ocupação que ganho mais dinheiro ou giro melhor os recursos disponíveis. Sei o que eram os ganhos, no comércio, quando atracavam no Funchal barcos em muito menor número e de menor dimensão, com ganhos igualmente para as nossas indústrias tradicionais. Sei da capacidade que tínhamos em fazer repetir experiência, pelos graus de satisfação que conseguíamos obter.

Por mais errado que possa estar e sempre aberto a ouvir outras opiniões desde que me permitam discordar e argumenta a favor da minha, acreditem que sei convictamente isto tudo. E também sei que é fácil empurrar com a barriga, sobretudo quando serão outros amanhã a levar com as consequências dos erros de hoje.