ONU alerta para agravamento da situação de perigo para civis no Mali
A ONU traçou um quadro sombrio da situação no Mali, que vai desde violência sexual usada como arma de guerra ao fortalecimento de grupos terroristas, enquanto a retirada dos 'capacetes azuis' levanta receios de novas dificuldades para os civis.
"A violência contra mulheres e meninas e a violência sexual ligada ao conflito continuam omnipresentes no Mali", denunciaram hoje num relatório peritos da Organização das Nações Unidas (ONU) nomeados pelo Conselho de Segurança.
Apontando para as partes envolvidas no conflito, o relatório responsabiliza particularmente as Forças Armadas do Mali e os seus "parceiros de segurança estrangeiros", avaliando que a repetição destes atos pode ser um sinal de violência "sistemática e organizada".
"O painel acredita que a violência contra as mulheres e outras violações graves dos direitos humanos e do direito humanitário internacional são utilizadas, especialmente por parceiros de segurança estrangeiros, para semear o terror entre as pessoas", diz o relatório.
Embora não identifiquem categoricamente este parceiro estrangeiro, que as testemunhas descrevem como "brancos", observam que "presume-se que seja o grupo Wagner", mercenários russos cujo líder Yevgeny Prigozhin foi considerado morto esta semana após a queda da aeronave em que seguia na Rússia.
De um modo mais geral, os peritos mostram-se preocupados com a deterioração da situação que coloca "em risco a paz, a segurança e a estabilidade no Mali", mencionando mesmo o "risco" de que grupos islâmicos armados "reproduzam o cenário de 2012", quando tomaram as principais cidades do norte após a rebelião tuaregue.
Alguns grupos armados que assinaram o acordo de paz de Argel de 2015 com o Governo do Mali "abdicaram das suas obrigações ao declarar publicamente que já não são capazes de proteger as suas populações", observam os especialistas.
Neste contexto de enfraquecimento dos grupos signatários do acordo de paz, "os grupos terroristas viram uma oportunidade que tentam explorar o mais rapidamente possível", alerta o relatório.
Assim, "em menos de um ano, o Estado Islâmico no Grande Sahara praticamente duplicou a área das regiões que controla no Mali", particularmente em Ménaka e Gao.
Quanto ao Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, aliança afiliada à Al-Qaida, "posiciona-se agora como o único ator capaz de proteger as populações" contra o Estado Islâmico no Grande Sahara e o seu líder, Iyad Ag Ghali, tem a "oportunidade de concretizar a sua aspiração de se tornar um líder importante no norte do Mali".
Exigida pela junta governante, a retirada da missão de manutenção da paz das Nações Unidas no Mali (Minusma) até ao final de 2023 corre agora o risco de comprometer "ainda mais" o já precário acordo de paz.
Numa carta enviada ao Conselho de Segurança, citada pela agência France- Presse, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também expressou preocupação com os riscos significativos para a segurança dos civis, a proteção dos direitos humanos e a ajuda humanitária representada pela saída precipitada da Minusma.