Jornalista venezuelano demitido após entrevista polémica a deputado
Um jornalista venezuelano foi demitido de uma estação privada de televisão da Venezuela, depois de uma polémica entrevista a um deputado do partido do Governo, durante a qual rebateu os argumentos do entrevistado.
A demissão foi confirmada pelo Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela (CNP, siglas em castelhano), através da rede social X (antigo Twitter) onde acusa a estação de impor uma política de censura.
"O colega Seir Contreras, jornalista de Globovisión (canal de notícias), foi demitido do canal de televisão, depois de uma polémica entrevista ao deputado Ramón Magallanes [do Partido Socialista Unido da Venezuela]. A empresa assume uma política de censura perante a ética profissional do jornalismo", denunciou o CNP.
O CNP condenou a demissão e expressou "preocupação" pela "clara violação do exercício de um direito humano inalienável: a liberdade de expressão".
"Para além de violar o direito ao trabalho, constitui um atropelo à liberdade de expressão e de informação, uma vez que resulta da censura de opiniões que estão totalmente de acordo com a realidade que o país atravessa", sublinhou.
O Colégio Nacional de Jornalistas afirmou ainda que "nas democracias, os meios de comunicação social tomam posições, como o demonstram as suas linhas editoriais, que podem ser defendidas com profunda paixão a nível editorial, mas que, no plano informativo, devem respeitar a pluralidade".
"Os meios de comunicação social prestam um serviço público e não devem responder a interesses políticos que violam a missão fundamental do jornalismo de informar, defender as democracias e exercer a função de controladoria social, tão necessária nas sociedades modernas", concluiu.
Segundo a imprensa local, Seir Contreras era apresentador do programa matutino Primeira Página, no canal televisivo de notícias Globovisión, privado, em que um dos proprietários está sancionado pelos Estados Unidos e teria anunciado recentemente que não permitiria entrevistas a candidatos às primárias da oposição, previstas para 22 de outubro.
Durante a entrevista, que foi depois eliminada do canal de Youtube da estação televisiva e de outros meios digitais, Seir Contreras, afirmou desconhecer onde estariam os fundos aprovados para obras de infraestrutura no país.
Disse ainda que uma irmã teve de emigrar devido à crise económica na Venezuela, e falou das falhas de serviços públicos que afetam a população, sublinhando que inclusive ele próprio teve de carregar água em recipientes, no setor de Caracas onde vive.
Convidou o deputado a percorrer os bairros populares e explicou que apesar de "ser loiro, de ter olhos verdes e trabalhar na televisão" era de um bairro popular.
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) e as organizações não-governamentais Espacio Público e Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela condenaram a demissão que afirmam ter ocorrido por telefone.