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Extrema-direita disposta a apoiar governo do PP mas sem "cordão sanitário"

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Foto: Javier SORIANO / AFP

A extrema-direita de Espanha apoiará no parlamento um eventual governo de direita no país se o Partido Popular (PP) não colaborar no "cordão sanitário contra o VOX", disse hoje o líder desta formação política, Santiago Abascal.

O VOX "está na disposição" de votar favoravelmente no parlamento a investidura como primeiro-ministro do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, se o chefe de Estado de Espanha, o Rei Felipe VI, indicar este nome para o cargo, na sequência das eleições legislativas de 23 de julho, disse Santiago Abascal.

O líder do partido de extrema-direita acrescentou que, porém, essa disposição está "condicionada a que o Partido Popular não colabore de nenhuma forma" com "o cordão sanitário que se pretende levantar contra o VOX".

Abascal lembrou que o VOX, que elegeu 33 deputados nas legislativas de julho, é a terceira maior força política em Espanha e que por isso não é aceitável que tenha ficado sem lugares na Mesa do Congresso dos Deputados (o parlamento espanhol), por falta de apoio do PP.

PP e VOX governam em coligação em quatro regiões autónomas de Espanha e em mais de cem municípios, lembrou ainda Abascal, que pediu ao PP para "valorizar" estes pactos e condenar quem os critica.

Abascal justificou a disposição para apoiar um eventual governo do PP, apesar da exclusão do VOX da Mesa do Congresso, por a alternativa ser um executivo liderado pelo socialista Pedro Sánchez, com o apoio parlamentar de partidos independentistas do País Basco e da Catalunha, que qualificou como "herdeiros do terrorismo e de um fugitivo da justiça", numa referência ao antigo presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont.

O líder do VOX considerou que os independentistas querem "condicionar o futuro de Espanha" e são "a maior ameaça" à unidade, à convivência "em paz e liberdade" e à "legalidade vigente", existindo "a possibilidade cada vez mais clara" de "ficar impune o golpe de Estado perpetrado na Catalunha em 2017".

Abascal referia-se à tentativa de autodeterminação da Catalunha de 2017, que acabou com a acusação e condenação de dirigentes independentistas, com os partidos separatistas a pedirem uma amnistia para apoiarem a investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro.

Abascal falava aos jornalistas em Madrid, depois de ter sido recebido pelo Rei de Espanha, que está a fazer uma ronda de audiências com os partidos que conseguiram assento parlamentar nas eleições de 23 de julho com o objetivo de indicar um candidato a primeiro-ministro, que terá de ser votado e aprovado pelo plenário dos deputados.

O PP foi o partido mais votado nas eleições, mas apesar do apoio do VOX e de dois deputados de partidos de Navarra e das Canárias, não consegue a maioria absoluta de apoios no parlamento que garante a investidura de Feijóo como primeiro-ministro.

A maioria absoluta são 176 deputados e o PP tem a garantia de 172 apoios.

Já o líder do Partido Socialista (PSOE) e atual primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, tem mais aliados no parlamento e, apesar de ter sido o segundo mais votado nas eleições, aspira a formar governo em coligação com o Somar (extrema-esquerda) e com o apoio parlamentar de uma 'geringonça' de partidos regionalistas, nacionalistas e separatistas.

O PSOE já conseguiu na semana passada reunir 178 apoios no parlamento para ficar com a presidência do Congresso dos Deputados (câmara baixa do parlamento espanhol) através dos votos da 'geringonça' de partidos de que precisa para liderar de novo o governo de Espanha.

A ronda de audiências de Felipe VI termina hoje à tarde, com um encontro com Alberto Núñez Feijóo, depois de ouvir Pedro Sánchez.