Um País de segmentação?
Num artigo de crítica gastronómico de uma das revistas do Expresso do mês passado, o crítico referia (ou queixava-se) de alguns novos restaurantes de Lisboa e do Porto não gostarem de ter clientes portugueses, sendo que, obrigados a aceitá-los, os tratavam de modo diferente do tratamento dado aos estrangeiros, tentando que permaneçam no espaço o menor tempo possível. A isto chama o autor do artigo de “turismo de… segmentação, vamos chamar-lhe assim, pois segregação é capaz de ser forte, para já”.
No outro dia num dos novos restaurantes no Centro do Funchal deparei-me com uma situação semelhante à referida acima. A primeira abordagem que a funcionária nos fez ao perceber que éramos portugueses, foi informar-nos que era um restaurante com cozinha de autor, num tom pouco convidativo com uma mensagem subliminar do tipo “não é para a bolsa dos portugueses”. A partir desse momento apercebi-me que aquela funcionária nada faria para tornar a nossa experiência gastronómica agradável. A simpatia que mostrava para os clientes estrangeiros desaparecia sempre que nos teve de servir … a comida de autor era boa, mas o serviço deixou muito a desejar, o que nos faz pensar que talvez não voltemos ao restaurante.
A atitude dos empresários e do pessoal dos restaurantes acima referidos é bem diferente da de outro empresário, de origem estrangeira, a viver há longo anos na Região que me dizia antes da pandemia que o que o alegrava era ter tantos residentes a frequentarem o seu restaurante. Veio a pandemia e o restaurante passou a servir “take-away” para os seus clientes habituais, sobreviveu à crise e hoje está novamente a funcionar com a casa sempre cheia de residentes e de turistas. Pergunto-me quantos dos restaurantes que maltratam os portugueses irão sobreviver a uma crise como a provocada pela pandemia?
O tratamento discriminatório contra os portugueses que se espalha por alguns restaurantes é mais um a juntar aos muitos que ainda me custa a aceitar, entre os quais saliento o facto de haver estrangeiros a pagarem menos impostos do que os portugueses com igual rendimento. A continuarmos neste caminho faz todo o sentido perguntar se Portugal se está a converter num país de segmentação para o Portugueses?