O gostar é uma coisa muito vaga sabes? E nós às vezes confundimos tudo. A paixão, o amor, a posse, o desejo, a inveja ou o sentimento de perda. No fundo faz tudo parte do mesmo circulo. Dor, prazer, dor, prazer. Perdemo-nos muitas vezes nos nossos próprios sentimentos no umbigo inflamado, cegamos e não vemos mais nada para lá do que nos parece ser o melhor para nós. Para ti e para mim. Se é verdade que quem está mais disponível para amar também estará sempre mais perto de sofrer, um não vive sem o outro. Mas nós podemos. Nós podemos viver um sem o outro por muito que nos possa parecer a determinado momento impossível. Por muito que o meu mundo se possa por vezes parecer esgotar em ti ou o teu em mim. A própria vida até deixar de fazer sentido. O terminar não faz da história menos bonita, não a transforma numa mentira nem desvanece o verdadeiro significado do que passámos juntos. Será sempre a nossa história e será sempre em bom mesmo que chegue ao fim e o saibamos finalizar em bom. Não como quando nos apaixonámos mas como sempre nos soubemos respeitar.

Por vezes a vida leva-nos num sentido e num sopro de vento muda-nos a direção. Sem estarmos à espera, deixando-nos por vezes sem chão. Sem alguma coisa que nos segure ou que nos alinhe. Isso não faz de ti má pessoa ou de mim melhor. Só porque um sofre aparentemente mais. Os momentos são partículas que não se esgotam mas que se definem num espaço temporal que não controlamos e que não podemos controlar, nem que o queiramos muito, muito mesmo. O que não podemos nunca é confundir o que sentimos com o direito que o outro tem de sentir igual ou diferente. Porque eu não sou dono de ti nem tu és minha posse. Não te comprei, não te troquei nem te registei em meu nome. Somos seres humanos por igual. Sim, sonhámos ficar juntos para sempre, mesmo sabendo que o amor é temporário e que nunca, jamais em tempo algum me passaria pela cabeça magoar-te, fazer-te sofrer ou imaginar-te em lágrimas por minha causa. Por isso eu homem, te digo a ti mulher.

Não me perdoes se algum dia ao ver-te escapar por entre os dedos te agarrar com mais força ao ponto de te magoar ou contra a tua vontade. Não me perdoes se te tentar manipular metendo filhos ou questões financeiras ao barulho, só para te ter aqui e não te deixar ser de mais ninguém. Não me perdoes se te agarrar no pescoço, se te der um estalo ou te empurrar com violência. Não me perdoes se me vires a humilhar-te sob qualquer forma, se te desvalorizar ou debochar de ti em público. Não me perdoes nem que chore compulsivamente e te peça perdão a seguir, dizendo que tudo não passou de um mal entendido. Às vezes é tempo de ir embora por muito que custe, por muito que não se vislumbre nem um raio de sol no profundo horizonte desconhecido. Porque aí já não será amor o sentimento que nos une. Aí já não existirá tão pouco respeito. Ter-se-á transformado em obsessão, em domínio emocional. Ter-se-á tornado numa coisa feia, num buraco que não tem remendo possível. Não permitas que esse sentimento doentio tome conta de ti e que o vás abraçando, permitindo que te leve ao fundo comigo.

Há sempre um caminho diferente, uma nova oportunidade, um novo olhar. Por muito que possas achar que uma separação será sempre pior para os filhos, convence-te de que os filhos estarão sempre melhor sem a confusão de um amor perdido e travestido de dor. Porque chegada aí, dar-te-às conta de que a solidão tomou conta de ti há muito e que já vives separada dos teus valores e das tuas convicções. Lembra-te sempre que o que é tóxico, não é amor, é veneno. Que o tempo é curto demais para nos subjugarmos perante outra pessoa e que há sempre espaço, por muito que pareça impossível, para começares uma nova vida. Tranquila e em paz, sem sentires o medo quando a porta bate ou o perfume do álcool te invade os sentidos.

Existem cada vez mais denúncias de violência doméstica e os casos que terminaram em homicídios voltaram a crescer. Não queiras ser mais uma. Não perdoes nem admitas o que não é perdoável ou admissível. Às vezes, é tempo de ir embora, antes que seja tarde demais…