Ódio à solta
É inconcebível a intolerância crescente. Nas redes e nos estádios. Nas levadas, nas estradas e nas esplanadas
Boa noite!
No final do Marítimo-AVS de hoje ouvimos alguns exaltados adeptos da casa insultar Jorge Costa, o treinador da equipa forasteira que, por sinal, já envergou a camisola verde-rubra.
Nem todos se lembram de como era um central raçudo e como disputava cada jogada com determinação. A memória do “tanque” depois transformado em “bicho” não está ao alcance de todos.
Admite-se contudo que um ou outro que esteve hoje no eterno “caldeirão” se recorde que na época de 1991/92 o jogador hoje treinador fez um auto-golo de cabeça ao serviço do Marítimo contra o F.C. Porto, clube que o tinha cedido por empréstimo e que acabaria por ganhar o jogo depois de ter estado a perder por 1-0.
Na altura houve polémica que esta tarde alguém quis reeditar sem sucesso pois os desaforos de final de jogo surgem apenas porque a equipa madeirense perdeu, porque o árbitro anulou e bem o golo verde-rubro, mas teve diversos lapsos, e porque o Marítimo ainda procura o caminho mais adequado para que o regresso à I Liga seja feito sem hesitações. Bolas, a época mal começou, o Tulipa não faz milagres e só há um Francis Cann.
É certo que os sete mil adeptos mereciam mais, que ninguém gosta de perder, mas o futebol não deve servir para espantar todos os fantasmas, nem a modalidade onde vão desaguar todos os dramas da sociedade angustiada, pelo que atirar-se a Jorge Costa sem vergonha e sem pingo de gratidão, sem reconhecer os seu méritos e virtudes, é fomentar violência, seja verbal ou física, que põe em causa os nobres valores humanos e desportivos.
Qualquer que seja o palco, esta intolerância crescente para com ex-residentes, turistas e até luso-venezuelanos é inconcebível.
Numa terra que sempre soube acolher, que é conhecida no mundo por ter capacidade de integrar e que obrigou muitos a emigrar, é lamentável que a febre eleitoral contamine percepções e fomente um abominável discurso de ódio que nenhum partido ou cidadão devia patrocinar. Por isso mesmo, aconselha-se todos os visados nos comentários irracionais e nos insultos gratuitos a agir em conformidade.