ONU lamenta problemas de financiamento na ajuda a 250 milhões de pessoas
A Organização das Nações Unidas (ONU) lamentou hoje os problemas crónicos de financiamento para a ajuda humanitária regular a 250 milhões de pessoas em 69 países.
Em comunicado emitido por ocasião do Dia Mundial da Ajuda Humanitária, que se assinala no sábado, as Nações Unidas realçam que o número de pessoas atendidas atualmente é 10 vezes superior ao de 2003.
A organização salienta ainda que se tem tornado mais difícil prestar assistência, devido às tensões políticas, ao desprezo de alguns setores face à ação humanitária e às campanhas de desinformação.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, saudou o esforço dos agentes humanitários para superarem essas dificuldades e enalteceu "a sua dedicação incansável ao serviço de todos aqueles que precisam, sejam eles quem forem, onde quer que estejam, aconteça o que acontecer".
A organização adiantou na quinta-feira que já morreram 62 trabalhadores humanitários neste ano, registando-se 84 feridos e 34 pessoas sequestradas.
No sábado, a ONU assinala os 20 anos de um atentado suicida na capital do Iraque que matou 22 pessoas, incluindo o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante oficial do então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e feriu cerca de 150 trabalhadores humanitários locais e estrangeiros.
"O Dia Mundial da Ajuda Humanitária (19 de agosto) este ano marca o 20.º aniversário do ataque mortal ao Hotel Canal, em Bagdad (na mesma data). Naquele dia sombrio, perdemos 22 colegas, inclusive o representante especial Sérgio Vieira de Mello", disse Guterres numa mensagem oficial divulgada quinta-feira.
"Esta tragédia marcou uma mudança na forma como os trabalhadores humanitários operam", adiantou.
O diplomata brasileiro tornou-se funcionário da ONU quando tinha apenas 21 anos. Passou a maior parte da sua carreira a servir em missões pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
Atuou em crises humanitárias no Bangladesh, Sudão, Chipre, Moçambique e Camboja, trabalhando com refugiados e em campos de guerra, segundo a ONU.
Foi responsável pela operação de repatriação e reintegração de moçambicanos que deixaram o país durante a guerra. Foi então que, aos 28 anos, Vieira de Mello assumiu o comando do escritório do ACNUR em Moçambique, tornando-se um dos mais jovens representantes do ACNUR em operação de campo.
Entre 1999 e 2002, Sérgio Vieira de Mello liderou a missão da ONU que acompanhou a transição de Timor Leste para a independência.
O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmava que Vieira de Mello era "a pessoa certa para resolver qualquer problema".
O compromisso do brasileiro com as causas humanitárias acabou por levá-lo ao cargo de alto comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos em 2002, um ano antes de perder a vida no Iraque, num atentado reivindicado pela organização extremista Al Qaeda.