Activista russo diz que apoio a rebelião Wagner na Rússia mostra desejo de mudança
O ativista russo Timofey Bugaevsky defende que a forma como os russos receberam os paramilitares do grupo Wagner durante a rebelião armada fracassada no final de junho mostrou vontade de mudanças na liderança do país.
O ativista russo radicado em Portugal, membro da Associação de Russos Livres, frisou que a receção dos cidadãos russos às tropas da empresa militar privada Wagner "confirma que as pessoas querem mudanças", mas ao mesmo tempo "aumenta a popularidade das pessoas que dizem que Putin é muito brando e que a guerra deveria durar até à vitória".
Apesar dos rumores sobre a fraqueza de Putin, o chefe de Estado russo conseguiu parar o grupo Wagner, sublinha Bugaevsky, membro da associação que nasceu no início deste ano em Portugal para protestar contra o regime do Presidente russo Vladimir Putin e a guerra na Ucrânia.
Sobre a posição de Putin no Kremlin, o ativista russo salientou também que "há rumores de que a elite vai trocar Putin por uma possibilidade de permanecer no poder".
"Mas talvez seja Putin a espalhar estes rumores, para ganhar tempo. Está sempre a tentar ganhar tempo, porque não tem eleições, como no mundo democrático", vincou.
Bugaevsky analisou também a esperança de mudança que o regime russo tem dado ao longo dos anos: "Em 2011, muitas pessoas esperavam que Putin não voltasse. Nos últimos 5 anos, houve rumores sobre problemas de saúde de Putin. Em fevereiro de 2022, as pessoas esperavam que não houvesse guerra. Depois, esperavam que a guerra não durasse muito".
"Muitas esperanças injustificadas. Putin não desiste. Portanto, não podemos desistir e devemos apoiar a Ucrânia que está a lutar contra este regime. Caso contrário, Putin vencerá", alertou.
Esta associação de russos em Portugal tem organizado protestos semanais junto da Embaixada da Rússia em Lisboa, todos os sábados. Este domingo, na Praça da Batalha, no Porto, às 12:00, e na Praça dos Restauradores, em Lisboa, às 17:00, decorrerão protestos sob o lema "Putin é um assassino".
Bugaevsky sublinhou, de resto, que "é importante trocar experiências" com outros ativistas, explicando que este grupo está sempre em contacto com grupos de outros países.
Apesar de estar fora da Rússia, este ativista de 42 anos radicado em Portugal sublinha que "as autoridades russas estão a utilizar o medo para fechar a boca das pessoas".
"O governo russo cria cada vez mais leis contra aqueles que protestam contra a guerra, e os serviços especiais russos continuam a usar veneno contra líderes da oposição no exterior", denunciou.
Sobre a situação dentro da Rússia, Timofey Bugaevsky frisou que, além de opositores famosos presos, "são centenas" as pessoas que estão detidas "por serem contra a guerra e o regime, e milhares de pessoas punidas de outras formas".
O ativista russo, em Portugal há quase dois anos, acrescentou que têm informações de "pessoas que são presas por literalmente nada", como "segurar um pedaço de papel em branco".
Com redes sociais como o Facebook e Instagram bloqueados, o ativista salientou à Lusa que o regime russo tem tornado "cada vez mais difícil" o acesso aos 'media' livres na Rússia.
Bugaevsky sublinhou que mesmo nas redes sociais em Portugal são visíveis tentativas de utilizar 'bots' pró-Putin e que a propaganda do Kremlin passa por obrigar os motores de busca na Internet a filtrar notícias para mostrar primeiro os conteúdos do regime, ou por criar e promover intensamente grupos no Telegram que dizem por exemplo: "o governo é estúpido, mas a pátria não pode perder a guerra".
Numa Rússia onde "muita gente vive sem gás ou sem canalização", o ativista radicado em Portugal realçou que o Kremlin "começou a pagar vários milhares de euros" a quem fosse para a guerra.
"Muitas pessoas decidiram que era uma boa oportunidade de melhorar as suas vidas", contou.
Outras, acrescentou, foram promovidas nos seus empregos porque pessoas mais qualificadas saíram do país e, por isso, "estão felizes com esse crescimento".