Ecossistemas que vão surgir com o degelo devem ser protegidos
O mundo deve começar a preparar-se para proteger os ecossistemas que emergem do gelo que está a desaparecer, perante o inevitável derretimento dos glaciares causado pelo aquecimento do planeta, alerta um estudo científico hoje divulgado.
Caso nada seja feito para impedir o aquecimento global, o mundo poderá perder glaciares que totalizam o tamanho da Finlândia até 2100.
No melhor cenário, caso as metas do Acordo de Paris para impedir as alterações climáticas sejam cumpridas, está previsto a diminuição das massas de gelo do tamanho do Nepal, refere um estudo publicado na revista científica Nature.
A análise de cientistas suíços e franceses aumenta as preocupações com o derretimento dos glaciares e reforça o apelo crescente para intensificar os esforços para proteger o planeta das alterações climáticas.
Na investigação, os cientistas referem que os humanos se desenvolveram para viver com glaciares durante milénios, sendo que o preocupante recuo da cobertura de gelo -- atualmente equivalente a 10% da superfície terrestre da Terra -- exigirá ações para trava-lo e adaptação quanto ao seu impacto.
Estas massas de gelo desempenham um papel fundamental no planeta, refletindo a luz solar ou fornecendo água doce para a agricultura, geração de energia e consumo, salienta o coautor do estudo, Jean-Baptiste Bosson, especialista franco-suíço em glaciares do Conselho Nacional de Proteção da Natureza em Annecy, França.
Bosson sublinhou que estão a ser desenvolvido esforços para retardar o recuo dos glaciares, embora não seja decisivo para salvá-los.
"Mas depois dos glaciares [derreterem] nem tudo está perdido. Precisamos de proteger especialmente a natureza que surgirá a seguir, as florestas de amanhã, os grandes lagos de amanhã, os grandes fiordes de amanhã", apontou.
Este cientista defende que há uma hipótese dos ecossistemas se recuperarem caso tenham o seu "espaço e tempo".
"[A natureza] encontrará soluções: capturará carbono, purificará a água doce, criará habitats para a biodiversidade", realçou.
A equipa responsável pelo estudo da Nature analisou cerca de 210.000 glaciares na Terra, sem incluir as gigantescas camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica, e descobriu que estas cobriam cerca de 665.000 quilómetros quadrados, aproximadamente o tamanho do Afeganistão, em 2020.
Dependendo dos diferentes cenários, que os especialistas dividem do pior ao melhor caso, o mundo pode perder entre cerca de 149.000 quilómetros quadrados e cerca de 339.000 quilómetros quadrados, até 2100.
Para o professor Ben Marzeion, do Instituto de Geografia da Universidade de Bremen, na Alemanha, que não participou na investigação, este estudo "mostra que há mais coisas" para as quais a humanidade deve estar preparada.
"Também mostra que ainda estamos no processo de descobrir a multiplicidade de impactos que as alterações climáticas terão", acrescentou Marzeion.